Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Já vai tarde, 2020!

Difícil achar um motivo que seja para ter saudade do mais desgraçado dos anos

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Mais algumas horas e 2020 acaba. Infelizmente não há por que lembrá-lo e nem há motivo para imaginar que 2021 será muito melhor, embora a vacina acenda esperanças.

Em meio à tragédia da pandemia, o mundo do esporte perdeu dois gênios como Kobe Bryant e Diego Maradona.

O astro do basquete logo no começo do ano, em 26 de janeiro, com apenas 41 anos.

O do futebol em 25 de novembro, aos 60.

No intervalo de dez meses entre uma e outra morte, 1,5 milhão de vítimas fatais pela Covid-19.

Sem que console, principalmente os próximos aos dois extraodinários esportistas, pôde-se dizer que ambos cumpriram com rara excelência suas missões e deixaram legado para alegrar gerações.

Cada um de nós teve também perdas irreparáveis, a maioria vítimas da pandemia, mas não só.

Estádios e ginásios vazios, calendário esportivo atropelado, dizem que os seres humanos se adaptam a tudo e que é a vontade de viver que permite a sobrevivência por pior que seja a situação.

Somos até capazes de nos distrair e saborear chupar bala com papel, beber cerveja sem álcool, sublimar arquibancadas desertas.

Tudo fica mais difícil quando nos cabe viver num país como Brasil, onde a maior parte da população teve roubada a possibilidade de se educar e por isso é racista, machista, homofóbica e se deixa enganar até por um fascistinha posto para fora do exército por terrorismo, ou por playboys marqueteiros.

Aí nos vemos diante da encarnação da desumanidade, a que diaboliza vacinas ou que faz delas palanque eleitoral.

O povo? O povo que se exploda, como dizia o deputado corrupto Justo Veríssimo, criado pelo gênio de Chico Anysio.

O humor retrata a realidade melhor que muitos tratados sociológicos, haja vista o prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, o Bem-Amado, personagem de Dias Gomes que sabotava vacinas para inaugurar o cemitério da cidade, precursor da necropolítica entre nós, brasileiros.

Como olhar para 2021 com otimismo?

Estamos a quantos dias da marca tétrica dos 200 mil mortos, grande parte por incúria dos governantes desmascarados e incapazes de planejar o necessário mutirão da vacinação?

Os gols continuarão a acontecer, as cestas, mas, e as fichas, quando cairão as fichas capazes de mudar a percepção das pessoas e os rumos do país?

O que aconteceu com a nossa indignação, aquela que levou tanta gente às ruas para exigir Diretas Já!, em 1983/84, ou para protestar contra tudo e contra todos em 2013?

Cadê os que foram às ruas para reclamar da corrupção quando temos a família presidencial atolada até o pescoço em mar de lama, milícias e rachadinhas?

Que povo somos nós?

Povo letárgico diante do morticínio de jovens negros, do feminicídio, da fome, da perseguição aos gays?

Que naturaliza um palhaço macabro ao imitar arminhas com as mãos sujas de sangue e milhões de reais?

Quanto tempo mais será preciso para que olhemos para a nossa cara, como queria Cazuza, e comecemos a mudá-la radicalmente?

Ou você acredita no “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”? Adolf Hitler dizia o mesmo, só mudava o nome do país que veio aqui mais tarde, e alegremente livre dele, nos enfiou 7 a 1, muito mais que o resultado de um jogo, apenas metáfora de dois países.

Porque, como Caetano, “eu não tenho pátria, tenho mátria. E quero frátria”.

Com tudo isso, desesperar, jamais!

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