Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Como aconteceu com a Portuguesa e o América, Botafogo corre sérios riscos

Clube viveu administrações desastrosas e, em alguns casos, impunemente corruptas

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Felizmente o futebol brasileiro é tão maluco que vive de desmentir previsões, sejam as otimistas, sejam as pessimistas.

Peguemos o caso do Santos.

Na virada do século sua situação era preocupante.

O clube fundado em 1912 era desimportante até que foi campeão estadual em 1935. Mas parecia ter sido um acidente, que só voltou a acontecer em 1955, com um timaço, mas sem Ele.

Depois Dele, sabe-se. Aqueles 11 vestidos de branco tomaram conta do futebol mundial e deixaram para trás os merengues, que se pelavam de medo de enfrentá-los.

Foram anos e anos de predomínio sob os pés do Rei Pelé.

Pelé parou, mas o Santos não, até que venceu seu 15º estadual, em 1984, e nunca mais ganhou nada de importante.

Quando o século 21 deu o pontapé inicial não havia como olhar para aquela que havia sido chamada de Vila mais famosa do mundo, a Belmiro, sem preocupação.

A torcida não era tão grande como a dos rivais do Trio de Ferro paulista, o Santos não conseguia resolver bem a dúvida entre prestigiar seus torcedores da cidade praiana ou os da capital, e o mais internacional dos clubes brasileiros mergulhou em provincianismo aparentemente sem fim.

Mas veio 2002, a conquista do Campeonato Brasileiro, e tudo pareceu voltar aos eixos, com a volta ao protagonismo.

Mal ou bem, até mais mal que bem nas gestões que se sucederam, a revelação de talentos manteve o Santos competitivo no cenário nacional.

Não é o caso do Botafogo.

Predominante no futebol carioca nos anos 1960 com quatro títulos estaduais, embora tenha tido a falta de sorte de rivalizar exatamente com o Santos nacionalmente, passou 21 anos na fila carioca até 1989.

O Glorioso de Nilton Santos, Didi e Mané Garrincha, para citar só três gênios, passou a definhar, perder popularidade para os três outros grandes do Rio, ganhou mais seis campeonatos estaduais, o último em 2018, quando já não eram mais conquistas importantes, além de um Brasileiro, seu canto do cisne, em 1995, caiu duas vezes para Série B do Brasileiro, em 2002 e 2014, e está em vias de cair pela terceira, enquanto o Athletico toma seu lugar entre os 12 principais clubes do país.

Tirante a gestão de Bebeto de Freitas, entre 2003 e 2008, viveu administrações não apenas desastrosas como, em alguns casos, impunemente corruptas, e chegou ao ponto de estar perto de viver apenas do que foi, orgulhosamente o clube que mais jogadores oferecia às seleções brasileiras campeãs.

Claro que sempre pode acontecer de aparecer um mecenas, como já se deu no Palmeiras, e no próprio Botafogo quando um bicheiro, Emil Pinheiro, foi o responsável pelo fim da fila dos 21 anos. O que está longe de ser solução.

Por mais que o Cruzeiro esteja em situação aparentemente pior, ao permanecer na segunda divisão em 2021, ou o Vasco, ameaçado pela quarta (!) queda, o time mineiro tem massa e estrutura para se reerguer e o Cruzmaltino, enfim, terá em Jorge Salgado um presidente que poderá fazer da quinta maior torcida do Brasil a base do renascimento.

Nada disso está no horizonte botafoguense.

O América de Zé Trajano foi golpeado em 1987, ao ser alijado da Copa União, e nunca mais reagiu, como a Lusa, rebaixada covardemente pelo STJD, em 2013.

O clube da Estrela Solitária não passou por nada parecido e é vítima apenas da superestrutura reacionária e corrupta de nosso futebol.

Erramos: o texto foi alterado

O último título estadual do Botafogo ocorreu em 2018, não em 2013. A informação foi corrigida.

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