Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Copa Libertadores 2020

Nada mais será igual sempre que Palmeiras e Santos se encontrarem

Nem Pelé e Ademir da Guia tiveram a responsabilidade que terão Weverton e Marinho

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“Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!”, diria Luís de Camões diante do jogo monumental que teremos neste sábado (30) no santuário do Maracanã.

Tudo novo, dos times ao estádio, tudo histórico, como os clubes e o palco.

Um clássico nacional disputado pela primeira vez em 1915, com goleada santista por 7 a 0, devolvida 17 anos depois com acréscimo, 8 a 0.

Esqueça os jogos nas últimas duas rodadas do campeonato nacional. Palmeiras e Santos só pensavam na final continental, batismo do clássico como internacional.

Não será, como é sabido, a primeira decisão brasileira na Libertadores, mas a inédita final paulista.

Nem o Rei Pelé e nem o Divino Ademir da Guia tiveram a responsabilidade que terão as mãos de Weverton e os pés de Marinho.

As armas do jovem compatriota do velho Camões, Abel Ferreira, dão mais alternativas, são mais valiosas e em quantidade maior que as do experiente Cuca, surpreendentes, alegres e abnegadas.

O Palmeiras chegou à decisão por cálculo, planejamento e obsessão.

O Santos, ao contrário, por acaso, sem que ninguém acreditasse, muito mais leve e solto.

Dizer que o peso maior está sob as costas alviverdes é verdade só pela metade porque nenhum santista dirá que o time é franco atirador, sem nada a perder.

Se o Palmeiras quer o bicampeonato e a passagem em busca do Mundial que lhe falta, o Santos busca ser o primeiro clube brasileiro tetracampeão sul-americano, além de empatar com o São Paulo com três Mundiais.

A rara leitora e o raro leitor se lembram de terem parado para ver Boca Juniors e River Plate decidirem a taça dois anos atrás. O mundo inteiro viu até por ter sido em Madri, no lendário Santiago Bernabéu, não por mérito, mas pela vergonha do acontecido em torno do Monumental de Núñez.

Agora pararão todos para ver o Maracanã, sem a beleza que seria lotado de branco e verde, ainda assim em espetáculo imperdível.

Ao torcedor brasileiro neutro, tomado pela chamada inveja saudável, restará desejar o jogo com a qualidade que os dois times podem disputar e que vença o melhor.

Na história do confronto, o melhor, durante mais de década, fins da de 1950 e toda de 1960, foi o Santos, embora em 105 anos seja o Palmeiras, com 138 vitórias contra 105 em 330 clássicos.

Vivêssemos tempos normais, o Rei e o Divino poderiam ver a finalíssima abraçados no estádio, quem sabe dar com seus pés mágicos o pontapé inicial da epopeia.

Felizes aqueles que viram ambos protagonizarem partidas inesquecíveis, ainda restritas às fronteiras estaduais ou nacionais, e agora podem ver novos personagens extrapolarem pelo planeta Bola.

“Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!”, pois daqui para frente nada mais será igual sempre que Palmeiras e Santos se encontrarem.

Lembre-se de que, se faltasse alguma regra para medir o tamanho do jogo, até hoje, desde 1958, trata-se do clássico brasileiro recordista em número de gols em apenas 90 minutos, 7 a 6 para o Santos, pelo Torneio Rio-São Paulo, gols praianos de Dorval, Pagão (2), Pelé e Pepe (3).

Também único jogo a decidir um Supercampeonato paulista, o de 1959, 2 a 1 para o alviverde, com cobrança magistral de falta por Romero.

Diante do tamanho deste sábado, só resta perguntar: quem tem roupa para vê-lo?

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