Começou o 120° Campeonato Paulista, ininterrupto desde 1902.
Há pelo menos 40 anos deveria ter mudado seu modo de ser.
Se fosse disputado durante toda a temporada pelos clubes que não participam dos campeonatos nacionais faria sentido.
Do jeito que se mantém teimosamente, sem acrescentar nada a quem o vence e causando crise em quem o perde, merece o tratamento que o Palmeiras promete lhe dar, o mesmo que o Athletico dá ao Campeonato Paranaense: jogar com o time reserva.
Não se trata de soberba, de esnobismo, nada disso. Apenas de sobrevivência para o que importa, ainda mais em tempos de pandemia.
Uma pena, porque a FPF apoiou a criação de belo hino para o torneio, além de lançar forte campanha pela vacinação.
A Hungria de Tostão
Nelson Rodrigues gostava de provocar Armando Nogueira ao se referir à “Hungria do Armando”, como se o grande jornalista exagerasse ao louvar o futebol magiar na Copa do Mundo de 1954, derrotado na final pela Alemanha, no famoso “Milagre de Berna”, que virou dos melhores filmes já realizados sobre futebol.
A Budapeste que Tostão quer visitar, dividida pelo belíssimo rio Danúbio entre Buda e Peste, capaz até de lembrar Paris separada pelo Sena entre Rive Droite e Rive Gauche, merece uma semana de estadia, ou mais.
Pena que a Hungria neste momento tenha seu Jair Bolsonaro na figura do primeiro-ministro Viktor Orbán, o que não recomenda o país dos antepassados de Luiz Schwarcz, autor de “O ar que me falta”, que Tostão está lendo.
Livro autobiográfico de admirável coragem.
Como imperdível é “Torto Arado” de Itamar Vieira Junior, a mais perfeita metáfora sobre o Brasil, infelizmente também um país não recomendável na atualidade.
Em tempos de pandemia e de permanência em casa para quem pode, e deve, são dois livros que honram a língua portuguesa, a exemplo do “Budapeste”, de Chico Buarque.
Como honrado foi o futebol húngaro na Copa de 1966, no jogo de que Tostão participou e fez o gol brasileiro, 3 a 1 para os adversários.
Já o clube Honvéd, mencionado também por Tostão, ao visitar o Brasil em 1957 esteve no Pacaembu para enfrentar o Flamengo, em jogo que a TV Tupi quis transmitir sem pagar, como era habitual no país.
Os organizadores do amistoso proibiram a entrada das câmeras e ergueram uma cerca de bambus para evitar cenas captadas fora do estádio.
Pelo menos é a lembrança de uma criança de 6 anos, frustrada por não poder ver os mágicos Sándor Kocsis, Ferenc Puskás e Zoltán Czibor.
Flamengo octo
No país que não pode mesmo dar certo porque, segundo o filósofo Tim Maia, “prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita”, além de jornalista fazer propaganda, há ainda o torcedor que prefere o campeão no tapetão ao no gramado.
A rara leitora e o raro leitor não sabem quem é Jair Theodoro dos Santos, embora saibam quem é Arthur Antunes Coimbra.
Ambos usaram a camisa 10 de times rubro-negros em 1987, o primeiro a do Sport e o segundo a do Flamengo.
Os dois são Zico.
Um, o carioca de Quintino, é o campeão de fato.
O outro, paranaense de Curitiba, ganhou o titulo no tribunal.
Cada um que faça a escolha de acordo com o seu gosto.
Em tempo
Sobre “Pelé”, o bom documentário da Netflix, faltou dizer que o tratamento dado a João Saldanha não faz jus a quem ele foi. Ao contrário.
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