Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Colocar o futebol agora como questão prioritária revela quem é quem

Da CBF às federações estaduais e clubes, com poucas exceções, todos insistem em continuar com os jogos

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“Pessoa que ordena ou é responsável pelo extermínio de muitas pessoas em pouco tempo”, define o genocida segundo o dicionário Houaiss.

Presidente, é mais simples, é quem preside, e tem dois gêneros, embora os çábios achem que dizer presidenta seja coisa de ignorantes e petistas —de resto um pleonasmo, sempre segundo os jênios.

Çábios e jênios, na mídia e no ministério da Justiça, andam tiriricas com quem mistura genocidas com presidentes e presidentes com genocidas.

Desenhemos pois aos sabujos para tentar clarear suas mentes apodrecidas pelo tempo, às vezes capaz de reduzir biografias a pó, pela bajulação pura e simples, por ganância, ou por gostar mesmo de genocidas, ainda mais se presidentes.

O presidente Jair Bolsonaro durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Jair Bolsonaro durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília - Evaristo Sá - 9.fev.2021/AFP

Comecemos nosso desenho, infelizmente em preto e branco, não por alguma preferência clubística, mas por ser impossível colorir a coluna, por separar, na definição do Houaiss, duas palavras a saber: ordena e responsável.

Há presidentes que ordenam, e portanto são inevitavelmente responsáveis, matanças em série. A história da desumanidade registra tantos casos que nem será preciso citá-los.

E há os que mesmo sem ordenar também são responsáveis.

Se pelo menos o Tico e o Teco dos que têm dificuldade em estabelecer conexão entre ambos conseguirem se comunicar por um minuto, ensinarão aos seus portadores que tratar pandemias com desdém torna quem o faz em responsável pelas consequências.

Imaginem, só imaginem a rara leitora e o raro leitor, embora seja realmente difícil, alguém em plena pandemia que ridicularize o uso de máscaras; a trate por gripezinha; promova aglomerações; chame de maricas quem se protege; ponha em dúvida a eficácia da vacina e recomende drogas não autorizadas pela medicina. E que disfarce todas as barbaridades ditas e feitas sob o argumento de defender a democracia, mesmo sendo conhecido por admirar ditaduras e torturadores. Que adjetivo usar?

Se não genocida, qual?

O mesmo Houaiss propõe ao menos três sinônimos: assassino, homicida e facínora.

Ora, você, impaciente, pode estar se perguntando: “Mas e o futebol, o que o futebol tem a ver com isso?”.

Tem tudo a ver.

Porque do presidente da CBF aos das federações estaduais, passando pelos dos clubes, com pouquíssimas exceções, todos insistem em continuar com os jogos.

Longe daqui a intenção de desafiar os poderes estabelecidos, ser incurso na Lei de Segurança Nacional, entulho inaceitável da ditadura civil-militar de 1964, ou de desejar a morte de terceiros, ou que os enterrem vivos.

Mas, raios que nos partam!, será preciso que algum desses personagens encontre o hospital fechado, para si ou para os seus, para que se deem conta da gravidade da situação?

Querem morrer na praia quando as vacinas estão aí para dar esperança de novos tempos?

Fossem medidas exageradas, e não são, entre o excesso de zelo e a omissão criminosa, cabe dúvida?

Os ditos conservadores brasileiros, em regra apenas reacionários empedernidos, quando não fascistóides enlouquecidos, adoram citar Winston Churchill.

O homem que impediu a queda britânica sob o domínio nazista não perguntou quanto custaria o esforço, deixou para resolver depois da guerra, e cunhou, entre tantas frases, uma redundantemente singela: “Todas as grandes coisas são simples”.

É disso que se trata, simples assim: futebol, agora, não!

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