Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Campeonato Paulista 2021

Presidente da CBF sai de seu mutismo para revelar-se discípulo de Bolsonaro

Rogério Caboclo é de perfil baixo, medíocre, além de inábil no trato da língua

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Rogério Caboclo é adepto do perfil baixo, menos por ser discreto, mais por ser medíocre.

Inábil no trato da língua, é capaz de defender a continuidade dos campeonatos com frase que diz o contrário: “Eu não abrirei mão…de deixar de jogar as competições nacionais".

Tão deplorável como, ouvimos no vídeo vazado da reunião da CBF com os 40 clubes das séries A e B, no dia 10 de março, o repeteco do palavreado da famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020.

O delicado Caboclo sentenciou diante de plateia subserviente e docemente constrangida:“Vocês estão fodidos se não tiver futebol".

Jair Bolsonaro (à esq) recebe Rogério Caboclo, presidente da CBF, em Brasília
Jair Bolsonaro (à esq) recebe Rogério Caboclo, presidente da CBF, em Brasília - Marcos Corrêa - 10.abr.19/PR

Lobinho em pele de cordeirinho, Caboclo candidatou-se a ditador da Casa Bandida do Futebol, trilha já percorrida em tempos idos por João Havelange e Ricardo Teixeira, de tristes fins.

Na prática, calou quem quis ponderar, como fez com o presidente formal do Palmeiras, mais uma vez no papel de Rainha da Inglaterra, ao enfiar o rabo entre as pernas, incapaz de mostrar ao tiranete que a gloriosa Sociedade Esportiva Palmeiras é a razão de ser da CBF e não o inverso.

Como só conhecemos pouco menos de 20 minutos da reunião, não se sabe como agiram outros cartolas, embora tenha ficado clara a parceria com o presidente do Flamengo.

Mas do Corinthians, o clube que um dia abrigou a histórica Democracia Corinthiana nos anos 1980, sabe-se ter aceitado sem tugir nem mugir ir jogar em Volta Redonda pelo Paulistinha, num estádio sede de policlínica que recebe eventuais pacientes infectados pelo novo coronavírus.

O Corinthians que andou batendo recordes de jogadores com a Covid-19. Quanta subserviência!

O que remete nem à libertária Democracia Corinthiana, mas ao conservador, autoritário, saudoso e folclórico Vicente Matheus, que em 1979 peitou a Federação Paulista de Futebol, recusou-se a jogar em rodada dupla os jogos que definiriam os finalistas do campeonato se a maior parte da renda não revertesse ao clube de maior torcida e, em vez de ser sentenciado com W.O., viu a rodada ser desmembrada após ir à Justiça.

Como a Justiça demorou para julgar, as semifinais só puderam ser jogadas após as férias. O gesto soberano equilibrou o lado técnico com o superior Palmeiras, que acabou derrotado, e culminou com o 17º título alvinegro.

Outros tempos, outras colunas vertebrais, cujos donos levavam em conta a frase de Millôr Fernandes: “Quem se curva diante dos poderosos mostra o traseiro aos oprimidos”.

E Caboclo ainda lançou mão de mentiras, fake news como se diz modernamente, ao afirmar que a Rede Globo não queria paralisar os jogos, de resto algo que querer ninguém quer, para ter de engolir em seguida a nota oficial da emissora, com a informação de estar de acordo com aquilo que as autoridades de saúde determinarem.

Enfim, surpresas não há.

Em sendo quem é o genocida do Planalto, por que se escandalizar com mais um na Barra da Tijuca?

Estamos mesmo em péssimos lençóis.

O negacionismo é sócio da necropolítica e os 300 mil mortos não comovem aqueles que só pensam em cifras.

No caso da CBF é mais grave, porque bilionária não divide seu bilhão com os clubes mais necessitados.

Caboclo e sua turma seguem na condução do futebol ao abismo.

Que os deuses dos estádios nos protejam.

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