Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Aventureiros vieram do nada e assumiram o poder no futebol brasileiro

Embriagado pelo poder, Caboclo pisou fora da reta e descobriu ser menos temido do que imaginava

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Primeiro foi João Havelange, dedicado aos esportes aquáticos, ao assumir, em fins dos anos 1950, a CBD, a Confederação Brasileira de Desportos, que reunia da natação ao futebol, 24 esportes.

Ele pouco sabia de futebol e delegou a Paulo Machado de Carvalho, empresário da comunicação e presidente do São Paulo, a tarefa de vencer as Copas do Mundo de 1958 e 1962.

Quando quis desfrutar das glórias do tricampeonato, em 1966, Havelange brigou com Carvalho e comandou um fiasco. A seleção não passou da fase de grupos.

Depois dele veio outro presidente ligado às águas, o almirante Heleno Nunes, posto no cargo pela ditadura, que descobriu corrupção de Havelange ao organizar a Minicopa, em 1972, para comemorar o sesquicentenário da independência.

Nunes fracassou e o empresário Giulite Coutinho, um homem decente, presidente do América, primeiro presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, de oposição, o substituiu ao vencer eleição renhida para transformar a CBD na atual CBF.

Limpo demais para nosso futebol, acabou derrotado pela dupla Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid, ex-presidentes das federações carioca e paulista, respectivamente.

Depois deles, o sogrão Havelange inventou o genro Ricardo Teixeira, empresário malsucedido no mercado de capitais, jamais visto no Maracanã e que se dizia torcedor do Clube de Regatas Flamengo, pois ignorava o "do" depois do Regatas.

Foram mais de duas décadas de escândalos que culminaram com sua renúncia forçada e o banimento do futebol, assim como aconteceu com seus sucessores José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, dois ex-presidentes da FPF, da estirpe de Chedid.

Não é que depois de tudo isso o expulso Nero pôs fogo na CBF ao entronizar Rogério Caboclo, cartolinha obscuro no São Paulo e na FPF?

Era para ele ser o que sempre foi, discreto, medíocre e submisso.

O papel de raposa felpuda ficou para o secretário-menor, Walter Feldman, este sim, que se ungido à presidência, comeria todos por uma perna.

Ex-deputado, ex-comunista, ex-ambientalista, atualmente com salário jamais imaginado, Feldman escreveu artigos para Caboclo, articulou para Nero, compôs com Teixeira, tergiversou durante a pandemia, só não imaginou ter de tratar com ciúmes de homens --ou com doses etílicas acima do socialmente aceitável, embora essa fosse uma tradição que já vinha do final dos anos 1980 e atravessado a mudança dos séculos. Convenhamos que entre pintar rodapés e fiscalizar esbórnias vai enorme diferença.

A tarefa ficou grande demais para Feldman quando Caboclo, entediado pelo isolamento social, podendo viajar ao contrário do patrono, o Marco Polo que não viaja, mas não podendo pelas exigências feitas aos brasileiros no mundo não negacionista, resolveu fazer da CBF uma casa de festas, destratar subalternos e se engraçar com quem não deveria --por se tratar de gente acostumada com camarão, não com ração.

Embriagado pelo poder, Caboclo pisou fora da reta e descobriu ser menos temido do que imaginava.

Não há de ter custado pouco para contornar a crise, para evitar a gravidade de eventuais denúncias neste mundo de hoje em que, felizmente, o que antes era visto com naturalidade pelos machistas se transformou em mancha indelével a destruir reputações.

Digamos que era o que faltava na vergonhosa história da Casa Bandida do Futebol.

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