Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Discussão sobre se o futebol é alienante ou mobilizador jamais irá terminar

Ora não se deve misturar bola com política, ora falar de bola é absurdo

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Durante anos e anos ouvi ou li, li ou ouvi que não se deve misturar futebol com política.

Que o leitor que chega até aqui quer um descanso das rugosidades do empírico, procura no esporte um oásis para as agruras do noticiário e quer ler sobre o passe, o gol, as aventuras e as desventuras do time de coração.

Que se a intenção é falar de política deve-se buscar outro espaço, de resto quase todas as outras páginas do jornal, porque até no caderno dedicado à cultura fala-se de política à vontade.

Daí o país chega ao ponto em que nos encontramos.

Rumamos para meio milhão de mortos!, meio milhão!, 500 mil!, não sei o que é mais forte para expressar o tamanho da tragédia, além de convivermos com nova chacina capaz de matar 28 pessoas, num cenário de horror tão cruel na favela do Jacarezinho como a fome que assola boa parte da população brasileira, a ponto de não deixar dúvidas sobre ser parte de um plano sinistro, genocida, para resolver nossos problemas com a eliminação física de quem pesa no orçamento.

Então, diante da barbárie, aparece um segundo tipo de leitor, o que pergunta, criticamente: como é que se pode falar de futebol em meio a tudo isso?

Enfim, apanha-se por ter cão e apanha-se por não ter cão.

Admito me satisfazer mais com os segundos, embora precise dizer que se vieram até aqui foi para ler sobre futebol mesmo...fazer o quê?

Principalmente numa semana em que os sete times brasileiros jogaram pela Copa Libertadores e terminaram a terceira rodada do torneio com cinco vitórias e dois empates, ambos fora de casa, numa campanha com 21 gols marcados, três por jogo, e apenas cinco sofridos.

Melhor: dos sete, seis são líderes de seus grupos, Flamengo e Palmeiras com 100% de aproveitamento, praticamente já classificados para a fase das oitavas de final.

Mais: numa semana que definiu os finalistas da Liga dos Campeões da Europa, a decisão entre os ingleses Manchester City, do belga Kevin De Bruyne, e Chelsea, do francês Kanté.

O craque do City, de 29 anos, e o do Chelsea, de 30, no auge das carreiras, meio-campistas capazes de ser muito mais que isso, porque daqueles de desempenho em todas as partes do gramado, jogadores completos, o belga até como falso centroavante, dessas criações de Pep Guardiola, sempre surpreendente.

E ainda: na semana da eliminação do Santos no Paulistinha, ameaçado até de rebaixamento caso não empate com o São Bento, na Vila Belmiro, nesta derradeira rodada.

Aí, pergunto à rara leitora e ao raro leitor: como deixar de falar do jogo preferido dos brasileiros por mais que em meio de tanta desgraça, até da CPI da Covid, com os governistas no desempenho do triste papel de buscar tapar o sol com a peneira?

Jamais terminará a discussão sobre se o futebol é alienante ou mobilizador e aqui sempre se buscará o equilíbrio entre os dois extremos, não exatamente pelo chavão de a virtude estar no meio, mas porque virar as costas para o futebol é negar a cultura nacional, do mesmo modo que tratá-lo com viseira são dois lados da mesma face de quem não vê além de seus narizes.

Por falar neles, os narizes, é inegável o cheiro fétido exalado pelo Brasil nos dias de hoje, responsabilidade de uma elite voltada apenas para os próprios umbigos, nem aí para a miséria da maioria do povo torcedor.

Mas, como sempre, desesperar, jamais!

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