Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Boicote à Cova América será algo tão inédito que o melhor é aguardar

Jogadores brasileiros não tem nível de consciência política como os da NBA

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Os jogadores que servem à CBF não são os da NBA, capazes de impor condições para jogar em plena pandemia desde que pudessem se manifestar a favor do movimento “Vidas negras importam”. Era conceder ou desistir.

A atitude dos basqueteiros acabou por ter forte influência na eleição de Joe Biden e na consequente derrota do bufão Donald Trump. O mundo agradeceu, penhorado.

Os futebolistas brasileiros estão longe de ter tal nível de consciência política e, em regra, a moeda de troca que utilizam é apenas isso, a moeda.

Pegue o caso de Neymar, entre a cruz e a caldeirinha.

Com problemas junto à Receita Federal de um lado e com vontade de prejudicar a Nike por outro —que o puniu por causa de acusação de assédio sexual tal e qual o presidente da CBF, Rogério Caboclo.

Aderir ao boicote sujará sua barra com quem ajudou a eleger, e o protege, mas, ao mesmo tempo, servirá para tirar a marca da patrocinadora dos holofotes.

Imaginem a rara leitora, e o raro leitor, uma ligação do genocida ao pai dele, com poderes ilimitados na entidade, lembrando a questão dos impostos e apelando pela participação do jogador na Cova América, além de seu empenho para convencer a boleirada.

O boicote será um murro potente demais neste governo que a cada dia perde apoio do eleitorado, e ganha no Exército.

Lembrar que estamos no Brasil, na América do Sul e não na do Norte, desgraçadamente, é obrigatório.

Porque aqui as coisas funcionam assim: o diretor de governança da Casa Bandida do Futebol, André Megale, ficou caladinho durante todo o tempo em que o escândalo hibernou no ex-edifício José Maria Marin, apesar de ser responsável pela ética, transparência e adequação à lei, a tal da compliance.

Ao se tornar público, graças ao trabalho da dupla de repórteres Gabriela Moreira e Martín Fernandez, resolveu tomar providência e mandou e-mail a Caboclo sugerindo afastamento temporário para que ele pudesse “comprovar sua inocência”.

Note: comprovar, não demonstrar ou, vá lá, defender.

Bem, ao menos, o afastou por 30 dias.

Soa assim como dizer que o general Eduardo Pazuello não participou de ato político porque o mortociclista não é filiado a nenhum partido.

Quando as hordas bolsominions passam a tratar o técnico Tite como comunista é porque o terraplanismo extrapolou a dosagem de cloroquina admitida para não matar o Tico e o Teco que habitam seus cérebros.

Tite não é, nunca foi e nem pretende ser João Saldanha, posto para fora da seleção brasileira na ditadura comandada por Garrastazu Médici. Apenas sonha em disputar mais uma Copa do Mundo, embora saiba da importância em ficar solidário a seus comandados.

Quando se especula com a substituição dele por Renato Portaluppi, assessor de assuntos futebolísticos do genocida, voltamos mais uma vez no tempo e no espaço, coisa de meio século.

Repetirá Portaluppi o papel de Zagallo em suas odes à amarelinha? Os jogadores aceitarão depois de se mostrarem tão fechados com Tite?

Porque o governo federal quer porque quer comemorar 500 mil mortos durante a Cova América e, qual São Tomé, só vendo para crer no boicote dos atletas.

Se acontecer, um outro ganho poderá ser computado: a extrema-direita talvez abandone o uso da camisa amarela em sua manifestações a favor do AI-5, da intervenção militar, da tortura, corrupção, da barbárie.

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