Está provado, como diria Caetano Veloso, que só é possível treinar em alemão?
Afinal, os três últimos treinadores campeões da Europa são germânicos, a saber: Jürgen Klopp, pelo Liverpool, Hans-Dieter Flick, pelo Bayern Munique, e Thomas Tuchel, pelo Chelsea.
Os dois últimos campeões mundiais de clubes —e Tuchel tentará ser o terceiro se o Chelsea não fizer com ele o que fez com o italiano Roberto Di Matteo, trocado, em 2012, pelo espanhol Rafa Benítez para o Mundial, vencido pelo Corinthians.
Não dar tempo a um treinador é a pior política para um clube de futebol. Será mesmo?
Tuchel pegou o time londrino em fins de janeiro no lugar do maior ídolo do clube, o inglês Frank Lampard, e o levou ao título continental, depois de ser demitido pelo Paris Saint-Germain, posto por ele na final da Champions contra o poderoso Bayern.
Fez mal o PSG ao dispensá-lo porque em tão pouco tempo Tuchel dobrou ninguém menos que Pep Guardiola, desde 2016 no Manchester City.
Assim como Flick, aliás, no Bayern, campeão europeu dez meses depois de assumir a equipe —e mundial em seguida.
Exceções que confirmam a regra ou porque, na verdade, não existem tais regras?
Pense no catariano Nasser Al-Ghanim Khelaïfi, dono do PSG.
Dispensou Tuchel, duas vezes campeão francês, campeão da Copa da França e da Copa da Liga Francesa, vice-campeão da Europa, e contratou o argentino Mauricio Pochettino, que perdeu o Campeonato Francês para o Lille e não passou das semifinais da Champions, eliminado pelo City.
Que burrada!, há de estar pensando o bilionário.
José Trajano, que filosofa em tijuquês, o simpático bairro carioca, não a cafona Barra, vive se debatendo em busca da resposta existencial sobre o momento certo de demitir o treinador. E sonha em ter Tuchel no seu América, embora, realista, pudesse se contentar com Abel Ferreira, aparentemente dedicado a chantagear emocionalmente a torcida palmeirense.
Ferreira filosofa em português mesmo e nos comove quando se refere às saudades da família, à primeira comunhão da filha, enfim, às agruras de quem escolheu fazer sua independência financeira em terras brasileiras.
Ninguém quer vê-lo pelas costas, que fique tranquilo. Ao contrário, queremos vê-lo com novas propostas de futebol, que nos encante como o brasileiro Oto Glória encantou os portugueses com a célebre seleção lusitana terceira colocada na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, apesar dos pontapés em Pelé para alijá-lo do jogo que eliminou a bagunçada, por João Havelange, seleção nacional.
É só o que queremos, como fez Jorge Jesus no Flamengo, uma lufada de ar fresco no embolorado resultadista futebol brasileiro, ao mostrar como é possível, e prazeroso, vencer e alegrar os olhos de quem vê a bola deslizar pelo gramado.
Chega de prosa, queremos poesia, como escreveu o cineasta italiano, e bom meio-campista, Pier Paolo Pasolini: “Quem são os melhores dribladores do mundo e os melhores fazedores de gols? Os brasileiros. Portanto o futebol deles é um futebol de poesia –e, de fato, está todo centrado no drible e no gol. A retranca e a triangulação é futebol de prosa: baseia-se na sintaxe, isto é, no jogo coletivo e organizado, na execução racional do código. O seu único momento poético é o contra-ataque seguido do gol (que, como vimos, é necessariamente poético)”.
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