Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Bárbara, goleira da seleção feminina de futebol, não pode ser Barbosa

Atleta falhou no jogo do Brasil contra a Holanda, mas não carreguem nas tintas

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Juca Kfouri

Bárbara, a goleira da seleção brasileira de futebol feminino, tem 33 anos e apenas 1,71 m.

Defende atualmente o time catarinense do Avaí mas já jogou na Alemanha e na Suécia e disputa sua quarta edição das Olimpíadas.

Ela falhou gravemente no segundo gol holandês e mesmo no do 3 a 3, que decretou o empate contra as campeãs europeias e vice-campeãs mundiais —apesar da bela cobrança de falta, a bola era defensável.

Bárbara chegou a ser considerada a quarta melhor goleira do mundo, em 2016, e a francesa Sarah Bouhaddi, hoje a eleita primeira, tem 1,75 m, altura também insuficiente para a posição quando se trata de futebol masculino.

Lembremos que a distância entre as traves é de 7,32 m, e a altura do travessão, 2,44 m.

Só como comparação, o alemão Manuel Neuer, considerado o melhor entre os homens, mede 1,93 m, importantes 22 centímetros mais que Bárbara.

A maior diferença técnica existente entre o futebol feminino e o masculino está exatamente embaixo das balizas, porque, em regra, homens são mais altos que mulheres.

Basta dizer que nenhuma das jogadoras da seleção tem mais que 1,80 m, sendo Benites, a zagueira do Inter, a mais alta, com 1,78 m.

De resto, é mais divertido ver a seleção de Pia Sundhage que a de Tite, embora também seja mais divertido ver a de André Jardine, da seleção olímpica masculina.

Quem viu Brasil 3, Holanda 3, sabe disso. Quem viu Brasil 4, Alemanha 2, idem ibidem.

Goleira Bárbara, da seleção brasileira, durante o empate em 3 a 3 entre Brasil e Holanda
Goleira Bárbara, da seleção brasileira, durante o empate em 3 a 3 entre Brasil e Holanda - Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Bárbara corre riscos.

Chegou às Olimpíadas cercada de desconfiança e de alguma maneira a dissipou com a boa atuação na estreia, na goleada brasileira sobre a China por 5 a 0.

Ter falhado contra a fortíssima Holanda trouxe de volta o temor de que ela não dê conta de garantir a defesa em jogos decisivos. Pode ser que sim, pode ser que não.

Não cabe, é bom que se diga, nenhum refresco paternalista, ou seria feminista?, diante de erros tanto de goleiras quanto de goleiros, eis o que deve ser sublinhado desde logo.

Apenas será bom advertir para que não carreguem nas tintas.

Por dessas coincidências, o nome completo da pernambucana é Bárbara Micheline do Monte Barbosa. Bárbara Barbosa, em resumo. Barbosa!

Barbosa como Moacir Barbosa Nascimento, 1,74 m, o goleiro do Maracanazo, o brasileiro que morreu aos 79 anos condenado à pena perpétua por ter falhado (?) no célebre segundo gol uruguaio, o de Ghiggia, que valeu o bicampeonato mundial para a Celeste e o complexo de vira-latas para o Brasil.

Bárbara é Barbosa e negra como o estigmatizado campineiro e ídolo do Vasco.

Tivesse Bárbara mais cinco centímetros, evitaria o gol de empate, o que reduziria sua falha ao tento que a virada superou.

Como fazer para minimizar o tamanho das goleiras é tarefa que certamente queima as pestanas de treinadoras e treinadores das equipes femininas.

Não perguntem a rara leitora e o raro leitor o que fazer porque o pobre colunista não faz a menor ideia.

A única certeza dele é sobre a necessidade de conviver com a realidade e não fazer amanhã, da Bárbara de hoje, o Barbosa de ontem.

Temporada de choro

Já vimos o choro da derrota nos rostos dos nossos atletas. Veremos mais.

Porque as Olimpíadas são assim.

O atleta passa quatro anos sonhando e lutando para estar lá.

Aí, viaja um dia inteiro, submete-se aos protocolos da Tóquiovid-21 e, em poucos minutos, recebe a passagem da volta dada por outro grande competidor.

Mais tarde contará, com justo orgulho, ter participado. Hoje resta o pranto da frustração.

Ao menos só faltam três anos.

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