Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Não sejamos ingênuos a ponto de achar que, após a desistência de Biles, as pressões diminuirão

Não é assim que a coisa funciona neste mundo extremamente competitivo

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Acrescente à tensão no planeta desde o surgimento da pandemia o desgaste e a ansiedade de milhares de atletas que tiveram seus planejamentos alterados sem saber se e quando a Olimpíada aconteceria.

E que, ao acontecer, mesmo sem torcida, aumentou gravemente o número de casos da Covid em Tóquio. Torcida faz parte da festa, coronavírus, do velório.

Pense na Vila Olímpica com mais de dez mil jovens segregados, isolados socialmente —lave as mãos e use máscaras, deixe medir sua temperatura—, e nas noites anteriores às competições de cada atleta, principalmente dos que praticam esportes individuais.

Junte à necessidade de vencer para faturar com patrocínios e virar herói em seu país e pronto! Sabe do que é preciso? De terapeutas para a cabeça, os chamados psicólogos esportivos, profissionais que já há décadas fazem parte, ou deveriam fazer, da vida de esportistas de alto rendimento.

Para tanto foi preciso vencer preconceitos e cometer equívocos.

No início dos anos 1970, o Corinthians, já amargando o jejum de títulos desde 1954, contratou os serviços do renomado psicoterapeuta Paulo Gaudêncio (1934-2017), pioneiro na introdução da terapia de grupo.

O preconceito era tal que, ao se dirigir ao consultório, havia jogador que dizia estar indo para o “curso de loucos”. E não era nenhuma alusão premonitória ao bando de loucos cantado pela Fiel desde 2006.

Os equívocos ficaram por conta de supor que o papel do psicólogo no esporte era mais o de motivador do que o de tratar de cabeças, tão ou mais importantes que pés e mãos.

O brado da extraordinária Simone Biles nesta Tóquiovid-21 consagra definitivamente a necessidade de cuidar do lado emocional de quem vive no olho do furacão.

Não sejamos ingênuos a ponto de achar que daqui por diante as pressões diminuirão, que torcedores e críticos tratarão de ser mais humanos e compreensivos, porque não é assim que a coisa funciona neste mundo extremamente competitivo seja qual for o regime no trato entre o capital e o trabalho.

Esportes de alto rendimento e saúde são praticamente inimigos, “no pain, no gain”, sem dor, sem ganho é a regra. Menos mal que, à custa da dor de Biles, possam ganhar todos aqueles convencidos da necessidade de blindar, até onde for possível, os que buscam a glória e a fortuna de estar no pódio.

Porque neste mundo cruel não foram poucos os que, no Brasil, viram na desistência da americana a chance de vitória da prateada Rebeca Andrade, embora a possibilidade a tenha transformado de azarão leve e solta em pressionada para ganhar o ouro.

Assim caminha a humanidade, desde antes de Charles Darwin e sua seleção natural, razão pela qual Sigmund Freud também é cada vez mais atual.

SABER GANHAR E PERDER

Há quem não saiba ganhar, que xinga em vez de comemorar. Zagallo quis ser engolido, e Dunga até xingou a taça que levantou do tetra.

Mas a maioria sabe, como a Fadinha e a Rebeca de prata, o Italo de ouro. Todos com simpáticos discursos.

Gabriel, o Mau Perdedor, não o Pensador, não sabe, a ponto de faltar à premiação do companheiro e contestar a nota de quem o derrotou. Estava tudo preparado para o surfista da casa? E como explicar que o ouro ficou com outro brasileiro?

Mal também foi o tenista Marcelo Melo ao acusar Novak Djokovic de ter lhe dado uma bolada de propósito. Ora, de costas, Melo não viu o pedido de desculpas do sérvio e deu bom dia a cavalo.

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