Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Abel Ferreira recuperou o tom de suas melhores entrevistas

Treinador foi didático com aqueles mais apaixonados pelas vitórias do que pelos seus times

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Assim que chegou ao Brasil, o treinador português do Palmeiras deu verdadeiras aulas de como se comportar nas entrevistas obrigatórias a que são submetidos os técnicos depois de cada jogo.

Passemos ao largo da exigência, de resto dose para elefante, porque com os profissionais ainda sob efeito da adrenalina da disputa, seja a da euforia pela vitória, seja a da depressão da derrota.

Muito provavelmente a obrigatoriedade seja responsável pela monotonia da maioria das entrevistas, ou repletas de desculpas esfarrapadas, invariavelmente atribuindo a responsabilidade pelos maus resultados a terceiros, ou eivadas de falsa modéstia, tipo não ganhamos nada ainda etc e tal. Quando não adentram pelo perigoso campo do futebolês e do taticismo (perdão pelo neologismo), o último terço do campo e coisas e loisas.

Abel Ferreira voltou aos trilhos e falou diretamente com o torcedor - Carla Carniel/Reuters

Ao trocar a casa lusitana pela brasileira, embora viesse da Grécia, Ferreira mostrou ter espeto afiado e deitou falação corretíssima sobre o escândalo do calendário nacional e as gaiatices da cartolagem.

Deve ter sido alertado pela direção palmeirense de que suas críticas poderiam causar perseguição ao clube e mudou do vinho do Douro para a água mal parada.

Irritado no banco, passou a colecionar cartões amarelos (17) e vermelhos (3), além de adotar uma postura antipática, típica de colonizador.

Para piorar, não conseguia fazer o time jogar à altura dos jogadores que tem.

Pois na última terça-feira (17) retomou o curso das primeiras declarações e, no embalo de uma vitória categórica, insofismável, impecável, por 3 a 0, sobre o rival São Paulo, falou bonito, verdadeiro, franco, alto e bom som.

Escritas foram feitas para ser quebradas e ele as quebrou uma por uma na sua curta história pessoal no Brasil e na longa de seu clube contra o rival: o Palmeiras dele não havia vencido o São Paulo de Hernán Crespo em cinco jogos; o Palmeiras não ganhava do tricolor havia oito partidas; o Palmeiras jamais havia vencido o adversário na Libertadores e mandou tudo por água abaixo. Ou acima, em seu caso.

O Palmeiras, de Patrick de Paula e Dudu, teve uma vitória categórica, insofismável, impecável, por 3 a 0, sobre o rival São Paulo - Nelson Almeida/Reuters

Não bastasse o belo espetáculo proporcionado pelo time do princípio ao fim no gramado, sua entrevista nos bastidores não deixou por menos ao falar diretamente com o torcedor, o alviverde, é claro, mas didática para todos os mal-educados, irritadiços e violentos apaixonados pelas vitórias mais que pelos seus times. Aos que veem futebol como se fosse a realização particular de cada um e são incapazes de conviver com a frustração dos maus resultados, muitas vezes, diga-se, influenciados por nós, jornalistas, igualmente impacientes, imediatistas, intolerantes.

Ferreira disse com todas as letras que os jogadores não precisam de palmas quando vencem porque já vão para casa felizes comemorar os triunfos. É nas derrotas, continuou, que o torcedor mostra quem é e é nelas que a equipe precisa de apoio.

Depois, admitiu ter se excedido quando expulso contra o Flamengo e merecido a suspensão estabelecida, para, com razão, em seguida, repudiar o cartão vermelho recebido no Mineirão quando se limitou a reclamar com a verdade do acontecido –o escorregão de Patrick de Paula punido com inaceitável exclusão do clássico contra o Galo.

O palmeirense teve motivos de sobra para dormir feliz de terça para quarta-feira.

Viu belíssima vitória e seu treinador voltar aos trilhos.

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