Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Nenhum balanço que se faça sobre a Tóquiovid-21 escapa de obviedades

Concluir que as Olimpíadas foram do rocambole não é diferente de mandá-las à casa do rocambole

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A primeira das obviedades ao fim de todas as Olimpíadas é a de que são sempre emocionantes.

Esta de Tóquio foi do rocambole, para não falar outra coisa, como ensinou o pugilista de ouro, Hebert Conceição, assim que nocauteou seu adversário com um cruzado de esquerda —e tinha de ser de esquerda?, pergunta o direitista empedernido.

A última das obviedades habita as avaliações brasileiras desde sempre: enquanto não pensarmos o esporte como fator de saúde pública, enquanto não dotarmos todas as escolas, TODAS, do país com acesso à prática esportiva, teremos alegrias fugazes, conheceremos atletas pelos quais nos apaixonaremos durante 15 dias e os esqueceremos nos quatro anos seguintes.

E que fique claro: as 21 medalhas brasileiras nada têm a ver com o atual desgoverno, mas com o esforço feito para a Rio-2016 e que foi destruído, como tudo o mais no Brasil.

Entre as obviedades intermediárias fica a sensação de vazio sobre o que fazer de nossas vidas agora que não temos mais com o que nos entreter, torcer, rir e chorar.

Como permanece a opinião de que não era hora de dar ao mundo a falsa impressão de normalidade em plena pandemia, por mais protocolos bem-sucedidos que tenham sido obedecidos.

O negacionismo disfarçado, envergonhado, saiu vitorioso, resta saber as consequências, como sempre sub-avaliadas.

Richarlison comemora medalha de ouro do Brasil no futebol masculino
Richarlison comemora medalha de ouro do Brasil no futebol masculino - Tiziana Fabi/AFP

Afirmar que os recordes de infecção batidos na capital nipônica não tiveram nada a ver com os Jogos é uma afirmação como outra qualquer, assim como dizer que a vacinação é inútil.

Enfim, concluir que as Olimpíadas foram do rocambole, e foram, não é diferente de mandá-las à casa do rocambole.

Com todo respeito.

Medalhas&critérios

Durante todo o tempo das Olimpíadas instalou-se mais uma vez a discussão sobre os critérios para definir quem estava à frente no quadro das medalhas.

Convencionou-se que lidera quem tem mais ouros, mas os americanos não obedecem e fazem a classificação pelo número total de medalhas.

É mais justo, é injusto, fazem assim porque era a maneira de assegurar a vitória dos Estados Unidos?

Como no último dia os Estados Unidos ultrapassaram a China por 39 a 38 em ouros, a polêmica perdeu força. Por quaisquer critérios, os norte-americanos venceram, pois totalizaram também 113 medalhas contra 88 dos asiáticos.

Haleigh Washington e Jordyn Poulter, da seleção dos Estados Unidos de vôlei feminino, posam com as medalhas de ouro após a vitória sobre o Brasil na final
Haleigh Washington e Jordyn Poulter, da seleção dos Estados Unidos de vôlei feminino, posam com as medalhas de ouro após a vitória sobre o Brasil na final - Yuri Cortez/AFP

Mas, a questão permanece: o que é mais justo?

Examine uma hipótese maluca, só para efeito de raciocínio: um país ganha 40 ouros e mais nada. Outro ganha 39 ouros, 40 pratas e 20 bronzes. Quem ganhou os Jogos Olímpicos?

Há um critério que resolveria a questão, como o de dar três pontos para o ouro, dois para a prata e um para o bronze.

Sempre alguém poderá objetar que o ouro vale o dobro da prata etc e o campo da subjetividade é infinito.

Mas quem ganhou mesmo, escolham a rara leitora e o raro leitor o critério preferido, foram as sobrinhas e os sobrinhos de Tio Sam.

Libertadores à força

O jogo físico excluiu o talento de Benítez e de Gustavo Scarpa do 1 a 1 entre São Paulo e Palmeiras.

Abel Ferreira ainda pôde corrigir seus erros no segundo tempo, com Patrick de Paula e Wesley.

Hernán Crespo não tem tantas opções.

Mas fazer do futebol um concurso de músculos está longe de ser o mais agradável aos olhos, porque a criatividade é sacrificada e com ela o espetáculo.

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