Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Seleção Brasileira

Futebol brasileiro está mais para sonífero do que para show de rock

Desculpas sempre há, às vezes com razão, mas não dá para jogar melhor?

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As seleções chilena e brasileira fizeram um mau espetáculo na sétima vitória nacional em sete partidas pelas Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar.

O gramado estava péssimo, o time de Tite desmantelado porque Juninho Paulista não é portenho e não soube convencer os ingleses como fizeram os argentinos, Neymar fez das piores apresentações com a camisa amarela, embora jogasse de azul, e o placar de 1 a 0 não satisfez nem os resultadistas, que dirá os amantes do bom futebol.

Para quem tem visto o Atlético Mineiro, o Flamengo e o Fortaleza jogarem, a seleção foi um porre.

Neymar e Enzo Roco durante partida entre Brasil e Chile nas Eliminatórias - Claudio Reyes - 2.set.21/Pool/AFP

Lenta, espaçada, errando 11 a cada 10 passes, incapaz de aproveitar os espaços proporcionados pelo desespero andino, intensidade abaixo da crítica, foi de doer.

Neste domingo (5), no gramado perfeito de Itaquera, contra a Argentina, será diferente?

Não faz nem um mês que o grupo de pesquisa suíço Observatório do Futebol, dentro do Centro Internacional de Estudos do Esporte (CIES), fundado em 2005, apresentou o resultado de pesquisa feita em 28 campeonatos nacionais para medir a intensidade de seus jogos, baseado nas corridas de alta potência dos jogadores e na quilometragem de cada atleta.

Sem surpresa, a Premier League ficou em primeiro lugar.

Mas a classificação brasileira surpreendeu até o mais pessimista dos observadores: o nosso campeonato ficou em 26º lugar, à frente apenas dos escoceses e dos estadunidenses.

Parte disso, sem nenhuma dúvida, deve-se aos gramados brasileiros.

Basta ver o desempenho do Fortaleza quando sai do pasto do Castelão e joga, por exemplo, na casa verde.

Ou como estava o piso do Maracanã até outro dia e assim por diante.

Porque entre um, dois ou três corruptos aqui, outro assediador ali, a CBF não tem moral para impor padrão de qualidade aos gramados do seu campeonato.

Quando se joga entre buracos, ou tufos que se soltam, o jogador é obrigado a escolher onde pisa, tem de olhar para a bola, evitar que ela bata na canela, tudo isso.

Mesmo assim, 26º lugar em intensidade é assustador.

Tanto quanto recente pesquisa realizada pela Quaest Pesquisa e Consultoria, fundada em 2016, em Belo Horizonte, que revelou o desinteresse de 52% dos brasileiros pelo futebol.

É possível que haja influência da pandemia, da antipatia pela seleção brasileira, que anda sendo confundida com o desgoverno federal, e até que haja alguma distorção. Porque, em regra, a porcentagem dos que não dão bola para o futebol sempre ficou um pouco abaixo dos 30%, seja nas pesquisas do Datafolha, Ibope ou do extinto Gallup. Acima dos torcedores do Flamengo e do Corinthians, o que dá a medida de que o Brasil nunca foi o país do futebol, mas não mais da metade.

Na Argentina, por exemplo, dá Boca Juniors em primeiro lugar no interesse popular, seguido pelo River Plate e só aí aparece o contingente dos desinteressados.

Na verdade, o Brasil foi o país do jogo bonito, do beautiful game como diziam os ingleses, dos anos 1950 até o começo deste século, tantos gênios nasceram aqui ao mesmo tempo.

Fomos deixando de ser, exportando pé de obra, vendo a miscigenação invadir a Europa, a gestão se modernizar pelo mundo afora e aqui permanecer no século passado, até chegar neste ponto, a da intensidade dos jogos do nosso campeonato estar mais para sonífero do que para show de rock.

Que não tenhamos mais um tango em Itaquera como o do Maracanã na Cova América.

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