Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Até quando diremos que o futebol jogado na Europa parece outro esporte?

Precisamos reagir, porque somos a cada dia mais medíocres em todos os aspectos

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Percebam a rara leitora e o raro leitor que a pergunta não se refere ao futebol jogado pelos europeus, mas, sim, na Europa, embora cada vez mais o jogador nascido no Velho Mundo também encante, como o atacante português Cristiano Ronaldo, como o meio campista belga Kevin De Bruyne, como o zagueiro holandês Virgil van Dijk, como tantos goleiros fabulosos, laterais da melhor qualidade etc etc etc.

O continente africano também revela jogadores extraordinários, e está aí o egípcio Mohamed Salah, apenas e talvez como o melhor de sua legião de excelentes jogadores.

Estão todos jogando na Europa, como o melhor dos brasileiros, Neymar, e, também, o melhor entre os argentinos, Lionel Messi, ou uruguaios, Luis Suárez et etc etc.

Note que não está citado nenhum jogador entre os franceses, atuais campeões mundiais, italianos, atuais campeões europeus, alemães, aqueles do… deixa pra lá, nem o polonês Robert Lewandowski (agora sim).

Lionel Messi durante partida do Paris Saint-Germain pela Champions League
Lionel Messi durante partida do Paris Saint-Germain pela Champions League - Franck Fife - 19.out.21/AFP

Daí você pega a 27ª rodada do Campeonato Brasileiro e soma 18 gols em dez jogos, com três 0 a 0, e compara com a rodada de terça-feira (19) da Liga dos Campeões da Europa — 35 gols em oito partidas, nenhum empate.

Por que a diferença ficou tão grande?

Não diga que a comparação é entre melões e cebolas porque postos frente a frente um torneio continental e um nacional. Fosse feita com a Libertadores e a diferença seria ainda maior, tal o baixo nível de uma taça às vésperas de permitir nove times brasileiros em sua próxima edição.

Em que medida a postura dos treinadores explica tantos gols por lá e tão poucos por aqui?

Será que é porque no Brasil os treinadores orientam o sumiço dos gandulas quando seus times estão ganhando, como aconteceu tanto no campo do Palmeiras como no do São Paulo na última rodada, diante do 1 a 0 sobre os visitantes Inter e Corinthians? Ou mandam os jogadores chutarem para o mato porque é jogo de campeonato?

Estarão felizes porque ganham fortunas na segunda divisão mundial?

Como reagem ao verem um jogo do Shakhtar, da Ucrânia, o 58º PIB mundial, com 14 jogadores nascidos no Brasil, o 12º PIB, embora fosse o 6º dez anos atrás?

Ou do Real Madrid, da Espanha, o 14º PIB, com cinco brasileiros?

Sim, 12 jogadores brasileiros participaram da goleada madridista sobre o time ucraniano.

E a desgraçada cartolagem nacional, que convive alegremente com Teixeiras, Marins, Neros e Caboclos e que adoraria ser um deles, sente alguma dor na consciência ao ver a que ponto trouxe o outrora melhor futebol do mundo, quando o planeta ainda não era globalizado?

Rara leitora, raro leitor, estamos fritos e precisamos reagir, porque somos a cada dia mais medíocres em todos os aspectos. É quase desanimador.

Agora que o público voltou aos estádios, seguimos sem respeitar a execução (a bala?) do Hino Nacional e a fazer barulho no minuto de silêncio, mesmo que estejam na arquibancada órfãos da pandemia negada pelo governo.

Tudo se mistura de modo melancólico e nós que fazemos três refeições por dia seguimos nossas vidas sem a menor empatia pelos que dormem com fome nas calçadas de nossas casas.

Fome de comida, fome de bola, fome de gols, de reencontrarmos o caminho do processo civilizatório perdido pela ganância da minoria que, com o poder de mentir deslavadamente, conduz feliz o gado ao matadouro. E daí?

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