Comecemos por Sylvinho, o principiante treinador do Corinthians que tem no meia Renato Augusto o melhor jogador à disposição em seu time e o escala para jogar como falso centroavante, de costas para o gol, sem poder exercer na plenitude sua maior qualidade, a visão de jogo.
Se não bastasse desperdiçar o que têm de mais precioso, escala o volante Gabriel para enfrentar a Chapecoense, que evidentemente jogaria a sete chaves.
Então, como também aconteceu contra o Fortaleza desfalcado de cinco titulares, entre eles seus dois jogadores mais desequilibrantes, Crispim e Pikachu, Sylvinho bota Gustavo Mosquito, o quebra-linhas, no segundo tempo, Jô também, Renato Augusto ocupa o lugar que lhe cabe no meio do campo e, nos estertores, no bafo da Fiel em Itaquera, acontece o gol.
Daí, aliviado por ter sobrevivido mais uma rodada, o treinador desfila platitudes do tipo o time ter 16 titulares, ninguém joga melhor durante os 90 minutos, o último terço, o último passe, o último passo, que pode ter sido o penúltimo, porque agora tem, fora de casa, Atlético Mineiro e Flamengo nas duas próximas quartas-feiras (10 e 17), embora com um providencial (?) Cuiabá pelo meio, em Itaquera.
Diferentemente de pouco tempo atrás, elenco o Corinthians agora tem para enfrentar os dois times com as melhores campanhas no Campeonato Brasileiro, resta saber se terá comando, ainda por cima elogiado pelas mudanças feitas nos minutos finais, quando foram apenas correções óbvias.
Diga-se que Sylvinho está longe de ser o único de cérebro indecifrável.
Pegue o Tite que ia deixando de fora Vinicius Junior em seu melhor momento no Real Madrid, gafe só corrigida graças à lesão de Roberto Firmino.
E não é de hoje.
Para não ir muito longe, indo, (mas o que são 50 anos?), é histórica a incompreensível polêmica instalada antes da Copa do Mundo que valeu o tricampeonato ao Brasil sobre a impossibilidade de Tostão e Pelé jogarem juntos, como se não coubessem dois gênios no mesmo gramado.
Até se fossem gêmeos univitelinos ambos caberiam, como, por fim, couberam maravilhosamente para escrever uma das páginas mais brilhantes do Planeta Bola.
Hoje, guardadas todas as proporções, (e bote todas as proporções nisso!), Abel Ferreira reluta em escalar juntos Raphael Veiga e Gustavo Scarpa no Palmeiras, verdadeiro crime de lesa futebol, como o xará dele, Abel Braga, cometia ao não dar espaço para De Arrascaeta e Everton Ribeiro juntos no Flamengo, incógnita inexistente na equação prontamente resolvida em português por Jorge Jesus.
Julia, filha e neta de jornalistas, tinha dois anos quando, na escolinha maternal, perplexa diante de uma decisão da professora, virou-se para as coleguinhas e comentou: "Palece que não tem cébelo", observação que fez a tia sair da classe para rir sozinha no corredor.
É fato que nós, jornalistas, achamos que sabemos mais que os chamados professores no comando de times de futebol, e evidentemente trata-se de soberba, embora seja o papel que nos coube neste latifúndio.
E todos os críticos serão calados no dia em que os gols saírem sem tanto sofrimento, como os corintianos, ou duetos forem permitidos para embalar os espetáculos sem torturar a lógica da necessidade de se deixar a arte e o talento fluírem com naturalidade pelos campos brasileiros.
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