Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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A SAF não veio para humilhar

Sociedade Anônima do Futebol não é panaceia nem meio para maltratar o torcedor

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Como inevitável sempre que há novidade, a SAF anda causando por aí.

As entradas do Cruzeiro e do Botafogo no novo modo de gestão repercutem para o bem e para o mal.

No caso mineiro, pelo episódio da dispensa do ídolo Fábio, mais mal do que bem; e, no carioca, ao contrário: o investidor americano está sendo tratado como se fosse a ressurreição de Mané Garrincha.

Nem tanto ao mar do Rio de Janeiro, nem tanto à terra das Minas Gerais.

O americano John Textor será bem avaliado pelo torcedor botafoguense caso repita a façanha do bicheiro Emil Pinheiro, que, em 1989, tirou o Glorioso da fila de 21 anos sem título.

John Textor será bem avaliado se repetir Emil Pinheiro - Divulgação/Crystal Palace

Os fins sempre justificaram os meios no futebol, fosse para lavar dinheiro da Parmalat/Palmeiras ou da máfia russa da MSI/Corinthians.

Os românticos do futebol raiz, ou os do ódio eterno ao futebol moderno, não se conformam com a assunção de proprietários do objeto de suas paixões, o que é compreensível. Como até hoje tem gente vindo a pé de Woodstock ou que não se acostuma com a queda do Muro de Berlim.

Mesmo que veja o exemplo do Chelsea, para ficar num caso, ou o do Manchester City, para ficar em dois, ou o do Bayern Munique, para citar um terceiro, diferente de ambos os britânicos e, é verdade, mais palatável ao gosto brasileiro, embora igual que nem ao mais puro modelo capitalista de gestão.

O Cruzeiro não sairia da crise atendendo aos interesses de seu ex-goleiro. Mais do que Deus, a grana assim exige.

Neste mundo globalizado e polarizado, encontrar a virtude, que dizem estar no meio, está cada dia mais complicado.

Nega-se a intervenção dos Estados Unidos nos golpes pelo mundo afora com a mesma sem-cerimônia que é negada a falta de liberdade em Cuba. Daí ser Leonardo Padura um exemplo de sensatez, coragem e patriotismo, sem se falar da excelência de sua obra.

Pode não parecer, mas a SAF tem a ver com tudo isso.

O modelo associativo de nossos clubes está esgotado não é de hoje, e, por isso, o futebol brasileiro caiu para a segunda divisão mundial.

Até mesmo o outrora poderoso Barcelona, aquele em que a bola não entrava por acaso, deixou de ser "mais que um clube" para ser mais um clube em apuros.

Há motivos de sobra para desconfiar da capacidade empresarial de Ronaldo Fenômeno, e pouco se sabe do que Textor será capaz.

O futebol brasileiro já afugentou inúmeros parceiros como o Bank of America, o Excel, o Opportunity, a Hicks Muse, a ISL, a Octagon etc.

Clubes como o Corinthians, o de maior potencial econômico no Brasil, tem suas categorias de base nas mãos de contraventores conhecidos, e outras potências, como Palmeiras e Atlético Mineiro, encontraram a salvação, com motivações e interesses diferentes, em mecenatos milionários.

No pântano do futebol mundial, em que Fifa, Conmebol e CBF são o que são, é difícil mesmo ver luz no fim do túnel, embora esteja clara a necessidade de se encontrarem novos caminhos.

O Brasil continua sendo aquela terra em que se plantando tudo dá, basta ver o menino Endrick brotando tão espantosamente que causa até medo.

Como seria maravilhoso se pudéssemos olhar para ele como alguém com quem conviveremos por duas décadas em nossos gramados, não como mais uma oportunidade de fazer dinheiro com sua venda para um clube-empresa europeu.

Enfim, como a crase de Ferreira Gullar, a SAF não veio para humilhar ninguém.

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