Ninguém tem o direito de censurar "Com açúcar, com afeto". Nem mesmo seu autor.
Chico Buarque de Hollanda, gênio da raça, anuncia que não cantará mais a música que fez a pedido de Nara Leão e acha que ela mesma não a cantaria nos dias de hoje, porque machista.
Duvideodó! Corajosa como era, Nara provavelmente enfrentaria o anacronismo e cantaria a linda composição com o vigor que cantava "Carcará" ou "Opinião".
"Com açúcar, com afeto
Fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa
Qual o quê
Com seu terno mais bonito
Você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é um operário
Sai em busca do salário
Pra poder me sustentar
Qual o quê
No caminho da oficina
Há um bar em cada esquina
Pra você comemorar
Sei lá o quê
Sei que alguém vai sentar junto
Você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias
De quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo
Sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo
Vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa
Você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão
Qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida
Diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado
Maltrapilho e maltratado
Como vou me aborrecer?
Qual o quê
Logo vou esquentar seu prato
Dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você."
Ninguém tem o direito de pôr no índex uma letra dessas, nem quem a pariu e embalou com tanta beleza desde 1966.
E a rara leitora e o raro leitor hão de estar perguntando o que isso tem a ver com futebol.
Ora, tem tudo a ver.
Poderia disfarçar, começar a coluna com referência ao fato de Chico ser tricolor de coração, jogar futebol com a classe de Pagão —aquele dos três Pês, Pagão, Pelé e Pepe—, e ainda lembrar que o outro time dele, o Politheama, jamais perdeu uma partida, como aliás Chico eterniza no hino do clube:
"Politheama, Politheama
O povo clama por você
Politheama, Politheama
Cultiva a fama de não perder
O teu pavilhão
Tremula sempre de emoção
Ostenta o galhardão
De clube sempre campeão
Augusto e varonil
O nosso time verde-anil
Nas glórias, nas glórias
Vitórias, vitórias
Na história do meu Brasil."
Mas não é preciso falar do futebol na vida dele porque futebol e música são duas áreas em que o Brasil é campeão mundial.
Esta coluna é mais que uma coluna, é um apelo para que Chico mude de ideia e não cometa contra si mesmo, contra a nossa música, a nossa cultura, tamanho pecado —forma carinhosa de referir ao crime que será enterrar uma letra que, além do mais, consagra a superioridade feminina em sua capacidade de amar.
Fecho de ouro
A garotada do Palmeiras coroou a conquista da inédita Copinha com louvor e show de bola ao golear os meninos da Vila por 4 a 0. Diferentemente do feito contra o São Paulo na semifinal, abriu o placar e, em vez de segurar o resultado, foi à frente em busca de mais.
Bem que Abel Ferreira poderia levar Endrick para brincar em Abu Dhabi em vez de mandá-lo para a Disney.
Tem futuro
A decepção do empate sem gols do Corinthians com a Ferroviária não escondeu o óbvio: o alvinegro tem um montão de ótimos jogadores.
Falta fazer um time com eles e esperar que a Fiel tenha paciência à espera de que Sylvinho mostre ser capaz de cumprir a missão.
O que, cá entre nós, parece ser tarefa fácil.
Paulinho jogou pouco tempo e muita bola.
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