O primeiro Majestoso para o treinador português Vítor Pereira pode ser o último caso o autocrata Vladimir Putin resolva cumprir sua ameaça: "Quem interferir levará a consequências nunca antes experimentadas na história".
Parece blefe, mas quem duvida do que Putin seja capaz depois de tudo que já fez?
O jogo marcado para este sábado (5), no Morumbi, não tem maior significado para a classificação dos dois times para os mata-matas do Paulistinha e não servirá para medir a capacidade do estreante técnico alvinegro, embora possa significar nova crise para Rogério Ceni.
Desde abril de 2017 o Corinthians não vence na casa do rival, duas vitórias tricolores e dois empates.
Será o 344º Majestoso na história, o 183º pelo campeonato estadual, com ampla vantagem corintiana, 130 a 104 e 67 a 58.
A memória seletiva —neste momento em que tantos fazem o balanço de suas vidas porque um gelado ex-agente da KGB, em Moscou, se vê às voltas com outro tresloucado abjeto humorista, em Kiev— revive os clássicos mais marcantes entre os times em que brilharam os irmãos Sócrates e Raí, dois craques na bola e seres políticos valorosos, humanistas por definição e formação familiar.
A decisão do Campeonato Paulista de 1957 é um desses jogos inesquecíveis, vitória são-paulina por 3 a 1, no Pacaembu, no que ficou conhecido como "a tarde das garrafadas", fruto da insatisfação da Fiel com o terceiro gol em suposto impedimento de Maurinho.
Sim, naquele tempo já havia violência entre torcedores —e a pizza promovida pelo padrinho tricolor de um menino corintiano de 7 anos foi a mais amarga da vida dele, hoje multiplicada por dez.
É claro que de lá para cá houve diversos jogos para superar aquela dor, mas a primeira dor você nunca esquece como celebrizou Washington Olivetto sobre o primeiro sutiã.
Em 1990, no Morumbi, o Corinthians celebrou o primeiro título brasileiro ao vencer o São Paulo por 1 a 0, gol de Tupãzinho e nem motivos houve para o voar de garrafas.
Jogos eternos não precisam ser decisivos, como não foi o da goleada em Itaquera, em 2015, com o alvinegro já hexacampeão brasileiro, com time misto, por 6 a 1 sobre os titulares tricolores.
Nem Vladimir Vladimirovitch Putin, 69, nem Volodymyr Olexandrovytch Zelensky, 44, estão preocupados com semelhantes reminiscências de cidadãos russos e ucranianos porque o gosto deles é por sangue.
Que a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional punam a Rússia e a expulsem da comunidade esportiva, como um dia se fez com a África do Sul por causa do apartheid, é justo.
Que jamais tenham tomado igual medida em relação às incontáveis intervenções, e longe de suas fronteiras, dos Estados Unidos pelo mundo afora, revela o tamanho da hipocrisia e pusilanimidade das entidades esportivas.
Porque se a memória do torcedor de futebol é seletiva, a indignação com as guerras tem de estar acima para evitar, entre outros horrores, o do racismo da mídia internacional chocada com o sofrimento dos europeus.
Jamais a mídia se impressionou tanto com a sorte de africanos, asiáticos, napalm no Vietnã etc etc.
Resta desejar que o Majestoso 344 seja apenas mais um e não lembrado como o último, até porque, se for mesmo o último, não haverá ninguém para lembrá-lo, a não ser, talvez, as baratas.
A que ponto chegamos nós, os humanos, projeto que não deu certo.
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