Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Constatar mais uma vez a diferença entre nosso futebol e o da Europa dói e dá inveja

Sempre haverá alguém para dizer se tratar do velho complexo de vira-latas. Autoengano de quem diz

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Não, por óbvio e repetitivo, não se fará aqui comparação alguma entre o jogo de dois gigantes europeus pela Liga dos Campeões da Europa, Manchester City e Real Madrid, e o disputado por outros dois gigantes sul-americanos pela Copa Libertadores da América, Corinthians e Boca Juniors.

Sim, mesmo que óbvio e repetitivo, será feita aqui a comparação entre o jogo dos ingleses contra os espanhóis e o entre brasileiros e argentinos.

E, por quê?

Porque os dois jogos sob condições semelhantes: gramados ótimos e estádios lotados, em Manchester com 52 mil torcedores, em São Paulo com 44 mil.

Lindas festas embaladas pela torcida do City, com a presença madridista, e não menos empolgante a da Fiel, com 2.500 xeneizes em Itaquera — pena que com um idiota, preso por imitar macaco.

Corinthians venceu o Boca por 2 a 0 na Neo Química Arena, pela Libertadores
Corinthians venceu o Boca por 2 a 0 na Neo Química Arena, pela Libertadores - Nelson Almeida/AFP

A diferença, a brutal discrepância, esteve no futebol apresentado lá e cá.

Lá, sete gols, alguns belíssimos, cá dois, também bem feitos, e ponto.

Porque a vitória do Manchester City por 4 a 3 teve 90 minutos, mais acréscimos, simplesmente espetaculares, como costumam ser os três minutos finais dos playoffs da NBA.

E os 90 minutos mais acréscimos do triunfo do Corinthians por 2 a 0 foram de doer.

Estavam em campo os dois times mais populares de São Paulo e de Buenos Aires, as duas cidades mais importantes do continente.

Muito mais relevante: estavam em campo dois times das duas escolas de futebol que já mandaram no Planeta Bola, as escolas do Rei Pelé, de Mané Garrincha e Ronaldos; de Di Stéfano, Diego Maradona e Lionel Messi.

Constatar mais uma vez que o que era doce acabou dói e dá inveja.

Inveja saudável, para ser politicamente correto?

Não, inveja inveja mesmo, com uma certa dose de raiva.

Claro, brasileiros havia às pencas no gramado e nos bancos na Inglaterra.

No time azul, o goleiro Ederson, o coringa Fernandinho e o centroavante Gabriel Jesus.

No merengue, Eder Militão, Rodrygo e Vinicius Junior, além de Marcelo e Casemiro no banco, este último porque machucado, pois é titular absoluto e, por sinal, fez muita falta, de certa forma até explica os quatro gols sofridos pelos madridistas, quatro que, sem exagero, poderiam ter sido oito.

Gabriel Jesus é marcado de perto por Eder Militão em City x Real, pela Champions League
Gabriel Jesus é marcado de perto por Eder Militão em City x Real, pela Champions League - Lee Smith/Reuters

Quem brilhou?

Brilharam o belga De Bruyne, o português Bernardo Silva, os brasileiros Jesus, Fernandinho e Vini, o francês Benzema, o croata Modric.

Nenhum inglês ou espanhol, embora, admitamos, o inglês Phil Foden também tenha ido bem.

Em Itaquera eram quase todos brasileiros e argentinos, nenhum europeu, alguns peruanos e colombianos, um paraguaio.

O que só aumenta a inveja, e a raiva, pois Boca e Corinthians somam cinco títulos mundiais, o último, dos corintianos, dez anos atrás, sem perspectiva de repetição nos próximos anos.

Ah, sim, porque a globalização, o euro, o dólar etc.

A conclusão inarredável é a de que ficamos para trás, porque seguimos administrando o futebol como no século passado e temos de nos contentar com nossas rivalidades, não mais com a excelência de nossos times, com a qualidade de nossos jogos, salvo um ou outro, as exceções que confirmam a regra.

É triste acordar num dia em que à tarde tem jogo pela Champions, e à noite da Libertadores, e a excitação maior ser pelo que irá acontecer do outro lado do oceano Atlântico.

Sempre haverá alguém para dizer se tratar do velho complexo de vira-latas. Autoengano de quem diz.

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