Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Trajetória do Palmeiras ensaia reproduzir superioridade do Bayern

Espanholização nunca foi risco para nosso futebol, mas hegemonias já tivemos

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​Sempre se falou na possibilidade de Flamengo e Corinthians, bem administrados, algo distante, virarem o Real Madrid e o Barcelona brasileiros.

Quem acompanha a coluna sabe que aqui a hipótese nunca prosperou pela simples razão de que nossos clubes mais populares têm torcidas grandes o suficiente para impedir tamanha discrepância.

Assim mesmo, de repente, não era mais Flamengo e Corinthians, mas Flamengo e Palmeiras ou, até, Palmeiras e Atlético Mineiro, embora o Galo ainda seja clube menos nacional que seus concorrentes. Tem, de fato, investidor poderoso, apesar de sujeito às mudanças políticas que parecem estar próximas com a eleição de outubro, tal o despudor situacionista que adotou.

Cinco minutos finais do Palmeiras na vitória de segunda-feira sobre o São Paulo valem valem por uma sinfonia - Cesar Greco - 20.jun.22/Palmeiras

A questão permanente tem sido a incapacidade de autossustentação dos clubes, por mais hegemônicos que tenham sido em determinados momentos.

Assim se deu com o Santos na longínqua década de 1960, como com o Palmeiras/Parmalat na de 1990, com o São Paulo no começo deste século, com o Corinthians na segunda década, e pinta agora, novamente, com o Palmeiras.

A ameaça do Flamengo ficou na ameaça, e a caminhada palmeirense aparenta ser mais sólida, respaldada pela operação muito bem-sucedida do novo estádio e, inevitável dizer, pelo mecenato, legal, transparente, do ex-presidente Paulo Nobre e pelo rendimento abusivo de sua patrocinadora que virou presidenta.

Do mesmo modo que aconteceu lá atrás quando se revelou a lavagem de dinheiro da Parmalat, ou o dinheiro sujo da parceria Corinthians/MSI, o doping financeiro tem sido o instrumento, com as exceções de praxe, que explica o sucesso temporário dos times nacionais.

Diga-se que o Real Madrid só virou a potência que virou porque com o respaldo da ditadura franquista e que o Corinthians não teria o sucesso que teve sem o apoio extraoficial do governo Lula.

Dito isso, por cedo que seja para conclusões definitivas, a trajetória palmeirense ensaia reproduzir mais a superioridade do Bayern Munique, ainda que distante do exemplar modelo de gestão do clube bávaro, do que a madridista, apesar de manter a mesma estrutura associativa.

E aí saímos do campo administrativo para o do jogo, para o gramado, artificial como o da casa verde e o da Arena da Baixada, misto como o de Itaquera ou natural como na maioria de nossos estádios.

Em todos esses o Palmeiras está sobrando.

Invencível? Nem o Santos de Pelé foi, e, aliás, quem fazia o papel do Borussia Dortmund, que incomoda o Bayern aqui e ali, mais ali que aqui não fosse o time de Munique decacampeão alemão, era exatamente o Palmeiras.

O Santos só não foi decacampeão paulista porque, em 1963 e em 1966, o alviverde o impediu.

Nesta quinta-feira (23), o Palmeiras poderá perder para o São Paulo no jogo de ida das oitavas da Copa do Brasil, como poderia ter perdido na segunda-feira (20), não fosse a estupenda virada nos acréscimos.

Poderá e poderia, mas, por que ganhou no Morumbi e ninguém aposta que perca no Morumbi, outra vez?

Porque o time está inoculado pelo vírus da vitória, da confiança, da busca abnegada pelos triunfos, esteja completo ou desfalcado, jogue em casa ou jogue fora.

"Ah, mas nem jogou tão bem contra o São Paulo", reclama o último remanescente da rabugenta turma do amendoim.

De fato.

Só que aqueles cinco minutos finais valem por uma sinfonia.

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