Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Nem fique de olho no apito

Desista. Embora o juiz não possa roubar, ele não sabe mesmo é apitar

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Avançamos na arbitragem brasileira, é preciso reconhecer. Já não se põe em dúvida a honestidade dos envolvidos, apenas a competência. Só a música de Carlinhos Vergueiro sobrevive.

Depois de tantos escândalos, como o "Caso Ivens Mendes", no final do século passado, e a "Máfia do Apito", no começo deste, o que era manipulação corrupta, em troca de alguns trocados, está claro, é pura incompetência. Com VAR e sem VAR.

Entra Wilson Seneme, sai Leonardo Gaciba, os erros continuam, ao vivo, em cores, nas mal traçadas linhas e, agora, com áudios.

Que permitem ouvir, como no jogo entre Flamengo e Athletico, a voz do VAR, ferramenta desmoralizada no país, dizer que um puxão na camisa, dentro da área, "não teve impacto". Ou que punir apenas com cartão amarelo uma entrada por trás com o pé no tendão do adversário foi "boa decisão" do assoprador de apito no gramado.

A rara leitora e o raro leitor sabem do anonimato dedicado neste espaço aos árbitros - Carla Carniel - 24.jul.22/Reuters

Ou, ainda, permite escutar o silêncio ensurdecedor sobre o pontapé de Gabigol em Fernandinho.

A arbitragem brasileira é tão rasa, tão escandalosamente ruim, que fez de Fernandinho, um lorde na Premier League, um celerado nos torneios nacionais.

Todos somos culpados.

A começar pela cartolagem, e a continuar pelos treinadores, capazes de reclamar quando seus times são prejudicados, mudos quando beneficiados.

Um ex-árbitro, muito conhecido, certa vez confessou ao repórter: "Olhe, que reclamem de mim aqueles prejudicados, faz parte do futebol, nenhum problema, vida que segue. Mas, se algum beneficiado apontar erro meu, o time dele vai se dar mal, porque em dúvida sempre apitarei contra".

A imprensa também tem culpa, porque a culpa é sempre dela, ao dar importância demasiada aos erros de arbitragem e muitas vezes discuti-los mais que os jogos.

Assim é há décadas, sem VAR, com VAR, bola na mão ou mão na bola, com intenção ou sem intenção, como se alguém pudesse julgá-la, e por aí afora.

O melhor seria olhar para os pobres assopradores, e para os especialistas eletrônicos, como se olha para o atacante que perde o gol, o goleiro frangueiro, a furada do zagueiro, o passe mal dado pelo meio-campista.

Porque está na cara ser inútil esperar melhoria diante da má formação dos envolvidos, sejam os árbitros, sejam os atletas, coisa apontada com precisão pelo português Abel Ferreira, mas vista, fruto da xenofobia, como atitude colonizadora.

A rara leitora e o raro leitor sabem do anonimato dedicado neste espaço aos árbitros.

São chamados de assopradores de apito porque nem merecem ter seus nomes citados —enfim, pode ser visto assim, um gesto generoso para não expô-los ainda mais.

O ideal seria mesmo esquecê-los, embora seja diadema retroz: pode a crítica calar sobre tantos erros?

Veja o caso da decisão da vaga para a semifinal da Copa do Brasil entre os rubro-negros cariocas e paranaenses.

Tivesse o jogo de ida no Maracanã uma arbitragem correta, provavelmente o Flamengo jogaria com a vantagem mínima se convertesse o pênalti não marcado pela "falta de impacto". Mas jogaria na Arena da Baixada sem Gabigol e sem Dom Arrascaeta, dois de seus principais jogadores.

Irá apenas sem David Luiz, expulso por ter dito um palavrão, no calor dos acréscimos, e, aí, o assoprador, cego para o pênalti e para as agressões, cioso de sua otoridade, mostrou-lhe o cartão vermelho.

Não tem jeito.

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