Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Talvez Neymar jamais decifre por que é o que é e seja devorado

Tite está confiante de que o terá inteiro e sedento na Copa do Qatar; tomara mesmo

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Decifra-me ou te devoro, desafiava os viajantes a esfinge de Tebas: "Qual é o animal que pela manhã tem quatro patas, duas à tarde e três à noite?".

A resposta estava dentro de cada passante, o homem, que bebê se apoia nas pernas e nas mãos ao engatinhar, depois apenas nas pernas e mais velho também na bengala.

Neymar pai, ao se projetar no filho, tem impedido ao craque dar a resposta certa, vítima não da esfinge, mas da síndrome de Peter Pan, que, embora lhe permita correr com a bola como poucos na história do futebol, não o amadurece a ponto de planejar como será o amanhã.

Tite está seguro de que daqui até o Qatar ele estará no auge da forma física e técnica, além de com fome de ganhar a taça faltante na vitoriosa carreira, repleta de conquistas e de muito dinheiro.

O treinador vai além da esperança, tem convicção, fruto das conversas com Neymar. Oxalá.

Aos 30 anos, nem bem começou a nova temporada europeia, o atacante do Paris Saint-Germain virou manchete novamente por ter simulado pênalti em amistoso contra os japoneses do Gamba Osaka.

O artista também é um fingidor e “finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente” - Toshifumi Kitamura - 25.jul.22/AFP

Há até comentarista de arbitragem que marcaria a falta, embora concorde que ele dramatizou excessivamente o lance.

Neymar é inegavelmente um artista, como todo atleta excepcional.

Parafraseando Fernando Pessoa ao definir o poeta, o artista também é um fingidor, e "finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente".

Neymar reagiu aos que o criticaram. "Bando de gente que nunca sequer chutou uma bola e fica fazendo matéria de merda", respondeu.

Nada contra a reação se de fato se achou injustiçado –e vai ver sentiu mesmo a dor causada pelo invisível toque do zagueiro nipônico.

Apenas não pode esquecer que virou piada mundial na Copa na Rússia, vivida por ele de gatinhas, talvez traumatizado pelo acontecido na Copa no Brasil, quando saiu de bengala e quase impedido de caminhar.

Ninguém exige ou espera que Neymar ganhe a Copa de 22 sozinho, que carregue o time nas costas como Mané Garrincha, 60 anos atrás, ou Diego Maradona, em 1986.

Bastará comportar-se, em campo e fora, como a liderança técnica da seleção brasileira, como adulto, disposto aos sacrifícios impostos pela empreitada.

No documentário sobre sua vida, ensaiou-se distanciamento inconvincente da figura paterna, em aparente simulação de controvérsia.

Ao deixar tudo extracampo por conta pai, Neymar ainda terá, em outubro, a dor de cabeça do julgamento por suposta corrupção na Espanha, em razão dos contratos feitos ao se transferir para o Barcelona.

É óbvio, qualquer que seja a sentença, a nenhuma responsabilidade dele nas tratativas, das quais, provavelmente, só soube na hora de assiná-las. Mas já era maior de idade.

O Ministério Público espanhol pede a prisão dele, do pai e da mãe. Haja cabeça em meio aos preparativos para a Copa.

Talvez Neymar jamais entenda por que é o que é.

E, por não decifrar, seja devorado.

Tite aposta no inverso. Oremos para estar certo.

Caixa de Pandora

Para ficar na mitologia grega, o novo acordo entre o Corinthians e a Caixa Econômica Federal mantém no ar tudo o que há de ruim desde a elaboração do primeiro contrato —e presa a esperança de que um dia a dívida seja paga.

Quem sabe, em 2122, sob as ruínas do estádio em Itaquera, a caixa se abra novamente com a solução.

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