Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juca Kfouri
Descrição de chapéu Libertadores

Una noche milagrosa en Buenos Aires

Ali era Corinthians, como tantas vezes em seus mais de 110 anos de história

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Escrevo antes dos jogos do Palmeiras e do Flamengo na noite desta quarta-feira (6), mas não tenho a menor dúvida de que o Palmeiras seguirá classificado para as quartas de final da Libertadores —como ficarei muito surpreso se o Flamengo também não estiver depois de enfrentar o Tolima, no Maracanã.

Daí escrever convencido de que dos oito finalistas pelo menos cinco serão brasileiros, o que é muito.

Principalmente para quem, como eu, apostava em que no máximo três sobreviveriam, e os três de sempre: Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras.

O Galo sofreu, mas passou pelo Emelec só por 1 a 0, e porque, desta vez, no Mineirão, Hulk fez de pênalti.

Agora terá de se ver com o Palmeiras nas quartas de final e precisará jogar mais do que vem jogando para voltar às semifinais, como no ano passado, exatamente contra o alviverde que o eliminou invicto.

O Athletico Paranaense não deixou por menos, empatou 1 a 1 nos acréscimos, no Defensores del Chaco, com o Libertad e arrancou brilhante classificação para enfrentar ou Estudiantes ou Fortaleza —e não será exagero dizer que na condição de favorito contra qualquer um dos dois.

Eram grandes minhas dúvidas se o Furacão seguiria vivo, como são maiores em relação ao Fortaleza nesta quinta-feira (7), em La Plata, contra o Estudiantes.

Só que enorme mesmo era a desconfiança sobre o que o Corinthians poderia fazer todo esfacelado na Bombonera, pois apenas um milagre o faria voltar a São Paulo como um dos oito finalistas.

Fidelino, por exemplo, aquele corintiano que mora em Itaquera, e só foi até hoje uma vez ao estádio porque ainda se dá por feliz de ter dinheiro para não passar fome, telefonou para dizer que estava bravo comigo, pois não admite falta de fé e que "aqui é Corinthians!", disse antes de gargalhar e desligar.

Pois o milagre aconteceu.

O milagre aconteceu - Agustin Marcarian - 5.jul.22/Reuters

Aliás, o milagre não, os milagres.

Os milagres que impediram Benedetto, de má memória para os palmeirenses, de abrir o placar em cobrança de pênalti no primeiro tempo; que o fizeram chutar por cima ao encobrir Cássio já mais para o fim do segundo; que insistiram em fazê-lo errar outro pênalti depois do 0 a 0 em cem minutos angustiantes de bola correndo no tempo normal, se é que se pode chamar de normal o que acontecia na Bombonera em noite de Bombonerazo; e que permitiram a Cássio pegar dois penais e ao negro Gil calar o estádio que pulsa —e abriga alguns poucos racistas que lá entraram aos berros e saíram mudos.

Mudo também, confesso, fiquei eu, que não creio, perplexo diante dos milagres em profusão na inesquecível noche de mi Buenos Aires querido.

Fidelino tem razão: ali era Corinthians, como tantas vezes em seus mais de 110 anos de história.

E ninguém pode duvidar, nem os mais calejados jornalistas, por mais racionais que precisem ser por dever de ofício.

Aquele punhado de jogadores mais pretos do que brancos, em terreno tão hostil, sem sete titulares, com dois bravos machucados ao fim dos 45 minutos iniciais e no começo dos 45 finais, que na verdade foram 50 e 50, talvez nem soubesse, mas encarnava Neco, Idário, Zé Maria, símbolos da raça corinthiana (desculpe, revisão, com h mesmo), numa jornada épica, daquelas que valem por dez taças, em que jogar futebol é o de menos e dar a vida no gramado nunca é demais.

Vai, Corinthians!

Zé Maria, ao lado de seu busto no Parque São Jorge, devidamente representado com o sangue que deixava em campo; é Corinthians - José Manoel Idalgo - 11.nov.21/Corinthians

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.