Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juliano Spyer
Descrição de chapéu América Latina

Cientista político analisa envolvimento de evangélicos na política

Livro compara relação entre política e protestantismo no Brasil, Chile e Peru

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

No início do ano, um acadêmico evangélico me escreveu: "Talvez você se interesse por este livro. Todos que conheço da ciência política estão falando bem". Ele se referia ao recém-publicado "Evangelicals and Electoral Politics in Latin America" (Evangélicos e a política eleitoral na América Latina, em tradução livre), do cientista político Taylor Boas, da Boston University.

O professor Boas examina a participação política da comunidade evangélica, comparando os casos de Chile, Peru e Brasil, para mostrar o que há de particular em cada um deles.

Ele argumenta, em resumo, que o envolvimento de evangélicos brasileiros com a política é maior que nesses outros países por dois motivos: aqui, evangélicos buscaram representação política por se sentirem frequentemente acuados e por conseguirem superar disputas e concorrência entre igrejas e tradições do protestantismo.

No Brasil, a separação entre Estado e igreja se dá a partir da constituição de 1891. Nas décadas seguintes, a Igreja Católica fez esforços para retomar sua posição privilegiada, por exemplo, com a formação da Liga Eleitoral Católica em 1933 para promover candidatos católicos.

Foi naquele ano, Boas argumenta, que a comunidade evangélica se organizou pela primeira vez para defender seus interesses.

No Chile, a separação entre Estado e igreja aconteceu só em 1925, a partir de um plebiscito. E o papa recomendou que os bispos chilenos não se opusessem àquela decisão. Por isso, segundo Boas, evangélicos se sentiram representados em termos de valores e visões de mundo pelos candidatos católicos e tiveram menos motivos para se envolver com a política.

Evangélicos do Brasil se viram acuados outras vezes, como nas deliberações para a Constituição de 1988. Dessa vez, pela presença de grupos da sociedade defendendo pautas como legalização do aborto e direitos dos grupos LGBT. É nesse contexto que a Frente Parlamentar Evangélica se estabelece, explica Boas, atuando para defender a liberdade religiosa e a cosmovisão cristã conservadora.

Finalmente, o caso do Peru mostra uma participação menor na política em comparação ao caso brasileiro, o que, segundo Boas, resulta das disputas internas entre igrejas e candidatos evangélicos. No Brasil, igrejas e políticos evangélicos conseguem, apesar das muitas diferenças, se unir em favor de interesses comuns.

Se católicos e evangélicos se aproximam em relação ao conservadorismo, evangélicos trazem ao cenário político pluralidade e capacidade de adaptação que o Vaticano por enquanto não oferece. Por isso, a curva de crescimento da população evangélica é semelhante nos três países e é uma tendência na América Latina como um todo. Daí o valor do livro de Taylor Boas.

Taylor Boas, autor de 'Evangelicals and Eleitoral Politics in Latin America'
Taylor Boas, autor de 'Evangelicals and Electoral Politics in Latin America' - Arquivo pessoal

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.