Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio

O esporte como praticado hoje nasceu e se estruturou dentro das escolas

O atleta permanece à mercê de instituições que hora oferecem, ora retiram

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Isaquias Queiroz comemora medalha conquistada nos Jogos Olímpicos do Rio - Marcos Brindicci /Reuters
São Paulo

O saber pode ser entendido como uma capacidade humana associada ao conhecimento de um tema e tem como limite, o ilimitado. Há muito tempo a universidade está diretamente associada ao desenvolvimento do saber, de ideias e tecnologias que fazem o mundo avançar.

A universidade é uma instituição cujas origens remonta a Idade Média. Voltadas à universalidade do saber, primeiro se estabeleceram no Oriente e apenas em 1088 fundou-se a Universidade de Bolonha, considerada a primeira da Europa, cuja missão era procurar a verdade, o bom e o belo, por meio do debate livre entre diferentes pensamentos, e onde se estudava direito, medicina e teologia. Durante muito tempo essa instituição foi destinada a poucos porque o acesso ao estudo não era um direito. Mas, foi de dentro delas que brotaram as grandes ideias que mudaram os rumos da história.


E o esporte deve muito a isso.

É sempre bom lembrar que o esporte como praticado no presente nasceu e se estruturou dentro das escolas. Foi nesse ambiente específico que foram desenvolvidas as regras e a prática de diferentes modalidades que persistem até hoje. Ainda que muitas delas tenham sido aprimoradas pela tentativa e erro foi a teoria do treinamento que permitiu que as marcas e limites atuais fossem alcançados. Por isso hoje se fala em Ciências do Esporte.

 
 
 

O universo que cerca o desempenho esportivo é amplo e envolve o conhecimento tanto das ciências humanas quanto das biológicas e exatas. Conhecer a especificidade de uma pessoa fora da média, como é o atleta, implica em aprofundar tudo aquilo que já se conhece da população média. E isso vai desde a fisiologia à dinâmica psicológica ou à constituição e organização dos grupos que se estruturam como equipes.

Sabe-se que em muitos países os grandes centros de treinamento estão dentro de universidades. Isso não quer dizer que os alunos regulares todos são atletas, muito embora os atletas de nível olímpico transitem pela universidade mesmo sem ser alunos. E essa troca faz muito bem para ambos. O atleta compreende a importância que o saber específico tem para a sua vida e o seu rendimento. Os alunos regulares podem ser praticantes de esporte ou de atividades físicas regulares, e a vivência dessa prática o faz compreender melhor o fenômeno que estuda.

Entendo que perdemos uma oportunidade de ouro na última década quando tudo isso poderia ter se desenvolvido no Brasil. Muita estrutura material foi construída, mas do ponto de vista acadêmico o saber ficou isolado dentro da universidade. O atleta permanece à mercê de instituições que hora oferecem, ora retiram, o suporte gerado a partir do saber produzido para sustentar uma prática que pede atualização constante.

E a consequência é uma cena de novela que se repete com um final pouco feliz.

Em vésperas de grandes competições são criadas expectativas de resultado de alguns atletas que passam a carregar o desejo de bons resultados, não apenas de si próprio, mas de toda a nação. Pelo histórico de medalhas que temos, sabemos que há muito mais otimismo do que realismo nessas avaliações. Pautadas no desejo, muito mais do que no conhecimento, as projeções se tornam uma arma pronta para ser disparada contra aqueles que, mesmo dando o melhor de si, não conseguem atender as altas expectativas.

É mais do que tempo de colocar o saber em seu devido lugar. Esporte, mais do que um entretenimento, é ciência. E é nessa condição que ele deve ser tratado com o devido respeito.

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