Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio

Jogos Olímpicos refletem uma busca humana para além de uma marca

Seus símbolos são um patrimônio cultural da humanidade com a potencialidade da imortalização

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Há tradições que são inventadas que sucumbem antes mesmo de ter algum reconhecimento por um grupo social. Outras conseguem ter alcance planetário porque lidam com símbolos universais também chamados arquétipos, ainda que seus inventores não tivessem consciência de que lidassem com esse tipo de poder.

O Olimpismo é uma dessas tradições inventadas.

Criado no final do século 19 espelhou a identidade de seus fundadores. Nobres, aristocratas e burgueses se juntaram para celebrar a agonística por meio da prática esportiva, a moda daquele momento. Testar habilidades como velocidade, força e resistência era coisa para homens, aqueles que determinavam os rumos do mundo.

Olympic House, nova sede do Comitê Olímpico Internacional, em Lausanne, na Suíça
Olympic House, nova sede do Comitê Olímpico Internacional, em Lausanne, na Suíça - Denis Balibouse/Reuters

As mulheres, daquele momento, eram figuras decorativas das competições públicas, cujo corpo devia ser guardado dentro dos ambientes privados e jamais expostos, além das mãos, pescoços e rostos.

Felizmente, nem todas aceitaram esse tipo de imposição e contestaram as normas levando à uma progressiva inclusão. O resultado é o que temos na atualidade.

A liderança desse processo coube a um aristocrata francês chamado Pierre de Coubertin. Embora pedagogo e historiador ele era antes de tudo um utopista. Acreditava que o esporte teria o poder de ser uma linguagem universal com a força para fazer todos os povos se entenderem por esse meio.

Independentemente do idioma falado, as regras das modalidades permitiriam que todos disputassem a mesma competição e se entendessem.

Por isso, consta da Carta Olímpica, em seu princípio fundamental nº 2, que o Olimpismo é "uma filosofia de vida que exalta e combina em equilíbrio as qualidades do corpo, do espírito e da mente, combinando esporte com cultura e educação".

Esse documento foi produzido há mais de cem anos e a proximidade entre esporte e educação continua a ser perseguida por todo o conjunto de educadoras e educadores que entendem que o esporte seja mais do que competição.

E prossegue: "O Olimpismo visa criar um estilo de vida baseado no prazer encontrado no esforço, no valor educacional do bom exemplo e no respeito aos princípios éticos fundamentais universais". É por isso que considero Coubertin, mais que tudo, um utopista. Desde o princípio, o esporte abraçado pelo Movimento Olímpico foi entendido como um valor moral que deveria ser universalizado.

Se no princípio os Jogos Olímpicos foram destinados a um pequeno grupo que tinha as condições materiais para se dedicar à prática do esporte. Com o passar do tempo a mítica heroica que acompanha a figura do atleta transcendeu a força das classes sociais e se multiplicou entre aqueles que têm a fortuna da habilidade motora e das competências físicas e emocionais para chegar ao nível olímpico.

E assim, valores universais como a amizade, o respeito, a excelência, a igualdade, a coragem, a determinação e a inspiração ganharam o adjetivo olímpico e passaram a nortear a prática de todos os envolvidos com o chamado Movimento Olímpico.

No próximo dia 23 de junho é comemorado o Dia Olímpico e como toda efeméride é um momento de se divulgar, ensinar e aprender sobre uma celebração que é mais do que uma competição. Os Jogos Olímpicos com seus símbolos e signos refletem uma busca humana que está para além de uma marca.

Eles são um patrimônio cultural da humanidade com a potencialidade da imortalização. Estejam no pódio ou fora dele todos os atletas olímpicos sabem o que isso significa. A essas mulheres e homens que são a razão de ser do Olimpismo rendo as minhas homenagens.

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