Participo de um projeto de pesquisa sobre a memória do esporte na rede pública do município de São Paulo. Parte dessa ideia adveio da formação em valores olímpicos proporcionada aos professores que participam das olimpíadas escolares da cidade. Mais do que competir, a proposta dessa capacitação é orientar todos os envolvidos nessa grande celebração sobre os desdobramentos de uma experiência única na vida de muitos jovens.

Muitos dos atletas olímpicos que conheço relatam a presença de um professor em suas vidas. Vários deles se lembram do nome, sobrenome, da escola em que esse encontro se deu e o que de mais específico mobilizou essa lembrança. Esses professores são lembrados não por prever que aquela criança seria um atleta olímpico, mas pela sensibilidade do professor de educação física em perceber algo de diferente naquele ser humano e dar espaço para que essa habilidade se manifestasse. “Apenas” isso.

Professores como esses tornam-se inesquecíveis, e muitos deles não sabem disso porque seus alunos vão para o mundo pegar à unha os inúmeros desafios que lhe são impostos e não deixam rastros. Passados os anos, quando despontam em alguma função, fazem seus antigos mestres suspirarem com um ar de satisfação e expressarem: eu sabia!

Um sem número desses professores foram cavaleiros solitários a defender meninas e meninos arredios, que pouco paravam sentados nas carteiras das salas de aula que exigiam silêncio e imobilidade. E era justamente a inquietude que fascinava professoras e professores de educação física, uma vez que o movimento daquele corpo era a expressão de um outro tipo de habilidade pouco valorizada ou mesmo negada.

Por isso, a professora e o professor de educação física são tão queridos na escola. Elas e eles permitem a educação de corpo inteiro, como escreveu o professor João Batista Freire.

Nesse projeto de memória já se somam lembranças que merecem registro e divulgação. Certa feita, na final do voleibol masculino das olimpíadas estudantis do município de São Paulo, enfrentaram-se as equipes lideradas pela professora Vaníria Lopes de Sousa e pelo professor Eugênio Mendes dos Santos.

Esses dois professores são do tipo que entendem o esporte como uma parte fundamental da formação de estudantes, e as olimpíadas como um momento de celebração, de encontro e de exercício de habilidades socioemocionais. Eles ensinam aos seus alunos que esporte é muito mais do que competição, é acima de tudo educação.

Prova disso foi a postura de um dos estudantes do time vencedor, comandado pela professora Vaníria, que reconhecendo o mérito da equipe derrotada, ofereceu a sua medalha ao professor Eugênio. Esse gesto de reconhecimento demonstra não apenas a importância das olimpíadas como exercício para a vida, mas o quanto professores como Vaníria e Eugênio representam a Educação com letra maiúscula.

Esse gesto é para mim a síntese do que é educar pelo esporte. Prova de habilidade, de competência e de dedicação, ele pode ser visto apenas e tão somente como uma manifestação que privilegia os mais habilidosos. Prova contrária são situações como essa final escolar. Tudo depende de quem lidera o processo. E essa pessoa são os professores. Elas e eles podem ser suficientemente bons, mas podem ser também inesquecíveis, pessoas que revolucionam vidas e o mundo.

A todas as mulheres e homens que abraçaram essa profissão que humaniza e transforma, eu presto aqui a minha homenagem.