Na década de 1990, quando o movimento internacional em defesa do meio ambiente ganhava força, o Rio de Janeiro foi sede de um evento chamado Eco 92, ou, para outros, Rio 92.
Naquela época, foi criada a Agenda 21, documento que nortearia o planejamento de sociedades sustentáveis nas décadas seguintes. Mais que uma utopia, era um plano de ação pensado globalmente para ser aplicado planeta afora em escala nacional e regional.
Parecia, naquele momento, que o mundo acordava para a necessidade de preservar recursos esgotáveis. O lema daquele momento era “pensar globalmente, agir localmente”.
Demonstrando conexão com as pautas internacionais, o movimento olímpico assimilou a proposta e lançou sua agenda 21. Rapidamente, percebeu-se que a prática esportiva saudável dependia diretamente das condições ambientais. Ar, água, terra são o suporte para que atletas, olímpicos ou não, demonstrem suas habilidades.
Os Jogos de Sydney, em 2000, foram chamados de os “Jogos Verdes”. Pela primeira vez na história, a pauta ambiental sustentava as ações tanto de candidatura como de realização dos Jogos. A baía foi despoluída, e as instalações foram projetadas para serem reduzidas e adequadas ao público de competições e shows posteriores. Adequar, reciclar e reaproveitar eram os verbos da vez. Naquele zoológico olímpico não caberiam elefantes brancos.
A partir de então, o tema meio ambiente estaria presente não apenas nos Jogos Olímpicos, mas nas competições esportivas de forma geral.
É inesquecível a maratona de Pequim, prova normalmente pensada para mostrar ao planeta, a partir das passadas certeiras dos corredores, os principais pontos turísticos e históricos da cidade-sede. Entretanto, a poluição crônica da cidade mostrou ao mundo um céu cinzento, sisudo, pouco condizente com a alegria da prova que anuncia o fim da festa olímpica.
A candidatura brasileira para 2016 prometia muitas coisas. A maior das promessas não cumpridas era a despoluição da baía de Guanabara. Lembro perfeitamente de fotos e vídeos de velejadores que mostravam todos os tipos de dejetos abjetos encontrados nas água da baía da cidade maravilhosa.
Não eram apenas milhares de pequenas garrafas pet. Eram para-choques de carros e outros trambolhos. Os estrangeiros protestaram, em vão. Passados quatro anos, o temor é hoje pelas águas que saem das torneiras nos lares cariocas, conforme estudo realizado pelo UFRJ.
Enquanto isso, de olhos bem abertos para o futuro, o comitê organizador dos Jogos de Tóquio promete uma ação sem precedentes para que a população local não pague a conta de uma breve festa que mobiliza o país por algumas semanas e deixa uma conta de anos para ser paga. Camas de papelão serão uma das inovações. Outras surpresas prometem entrar para a história.
Agora, as atenções do planeta se voltam para a Austrália. As cinzas e a fumaça produzidas pela carbonização das florestas já cruzaram o oceano e chegaram à vizinha Nova Zelândia e à brasileira Porto Alegre. O pesar por essa catástrofe se estende às pessoas que perderam a vida e suas casas, aos animais indefesos e aos tenistas que participam do Australian Open.
Tenistas presentes no torneio protestam contra a qualidade do ar, considerada imprópria. Imaginem respirar fuligem durante algumas horas sob sol escaldante? Competem por temerem perder posições no ranking, mesmo colocando a saúde em risco.
Avery Brundage, então presidente do COI, um dia após o atentado à vila olímpica de Munique, em 1972, disse que o show deveria continuar. Nenhum incidente ou catástrofe faria parar a competição. Na fase do amadorismo, valia a tradição. Hoje, são os interesses comerciais.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.