Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Acompanhar os Jogos de Tóquio, em 2021, será como celebrar Natal em março

Ainda assim poderá ser uma competição linda, com todo o rigor que só os japoneses são capazes de operar

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Querido Papai Noel, sei que o dia 25 de dezembro foi intenso, como são todos os anos. Com o passar do tempo, adultos e crianças passaram a considerá-lo um membro da família e acabou-se o respeito. Perde-se a deferência aos mais velhos, como eu tinha com meus avós, tias e, claro, com Seo Hilário e Dona Darcy.

A intimidade é um problema. Imagino que as cartinhas agora cheguem por email, WhatsApp, Instagram, Facebook, a qualquer hora, sem qualquer respeito à sua privacidade. É difícil mesmo, não é, velhinho?

E pensar que você já foi a pessoa mais querida e esperada em todos os lares.

Cá entre nós, universalidade dessas só mesmo com uma mãozinha de Hollywood, que levou o planeta a acreditar que tudo que aparecia nas telas era real e universal. Mas, tanto ao sul quanto ao oriente, o Natal nem tem neve nem celebra Cristo. Ok.

Sei que isso não é problema seu, afinal você é totalmente capaz de compreender a diversidade e a pluralidade do mundo. Sabe, Noel, queria que você tivesse tido tempo de assistir ao especial de Natal do Caetano. Ele arrasou!

Conseguiu sintetizar o espírito do Natal neste país tropical, onde não cai neve e quase sempre as celebrações natalinas são acompanhadas de dias quentes imediatamente após o solstício de verão.

Daí, a festa de Natal ser feita com areia, folha de pitanga e presépio com muito papel. Coisa linda demais.

Não faltou homenagem ao Roberto Carlos, presença tão certa nos lares brasileiros quanto tender de bolinha. Mas 2020 tinha que ser diferente até nisso. Depois de quarentena, máscara, isolamento físico e distanciamento social, o Natal foi com pouca gente em casa e ares de dia comum.

Nem show do Rei teve e muitas famílias não tiveram na ceia os mesmos itens de outros anos.

Imagino quanta gente pediu algumas doses de vacina para entes queridos e pessoas mais velhas, tentando alterar o movimento do músculo da face, convertendo uma expressão de tristeza em franca alegria.

Quase 200 mil lares brasileiros tiveram uma ou mais cadeiras vazias à mesa. Diante disso seria difícil fazer esse dia ser de festa, não é mesmo?

Poderia ter sido diferente, é fato. Minha sobrinha Giovana, que há mais de uma década vive na Nova Zelândia, me contou que por lá as coisas foram bem distintas. Tudo parou quando ainda havia poucos infectados. A quarentena foi respeitada para salvar vidas, mesmo sendo ano eleitoral.

As cores da restrição foram mudando à medida que realmente havia melhora no quadro. E hoje, depois de comprar vacina para toda a população, o governo irá doar o excedente. Isso prova que país que tem líder de fato é como time com capitão competente: todo mundo respeita e joga bem o jogo.

E por falar em jogo ficamos por aqui à espera da confirmação sobre os Jogos de Tóquio. Como já falei lá em abril, poderá ser uma competição linda, com todo o rigor de organização que só os japoneses são capazes de operar. Entretanto, não serão Jogos Olímpicos, como não seria Natal se você aparecesse em março.

Seria o mesmo que ter Papai Noel com roupa roxa e bolinhas amarelas. Eu sei que o senhor vai argumentar que o Carnaval será celebrado em julho.

Convenhamos: Carnaval se pode fazer a qualquer dia, em qualquer lugar. Solta o samba ou o frevo e a felicidade se incumbe de fazer o povo saltitar.

Quero crer, meu bom velhinho, que nada tenha lhe acontecido nestes dias de trabalho intenso. Afinal, o saco que você carrega muito se parece com a caixa feita por Hefesto e dada por Zeus a Pandora.

Embora de lá tenham brotados todos os males que afetam a humanidade, ainda permanece a esperança tão necessária para superar este ano.

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