Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Atletas não medalhistas alcançam resultados tão expressivos quanto os que sobem no pódio

Assim como Rebeca aprendeu com derrotas de Daiane, outros tantos aspirantes vão se inspirar em Lucas Verthein, Hugo Calderano e Ana Sátila

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Passada a primeira semana de competições olímpicas, já temos muitas histórias para contar.

Na ordem natural das discussões esportivas, começamos obviamente pelas medalhas. Como não enaltecer o fantástico ouro de Italo Ferreira, as incríveis pratas de Rayssa Leal, Rebeca Andrade e Kelvin Hoefler e os bronzes espetaculares de Mayra Aguiar, Fernando Scheffer e Daniel Cargnin?

Fiz questão de adjetivar as medalhas porque é assim que se costuma referir àqueles que sobem no pódio. Os metais são seguidos de adjetivos ou superlativos que reafirmam as conquistas. Nada novo.

Minha intenção é mostrar como atletas não medalhistas alcançam resultados tão expressivos historicamente quanto os que sobem no pódio. No entanto, a narrativa criada para esses feitos acentua a derrota, aquilo que não foi alcançado, assim como as medalhas de prata e bronze são consideradas menos importantes.

Vale lembrar que a derrota pode ser considerada a sombra social no mundo contemporâneo. Deslocada do processo competitivo como inerente à competição, resta a ela a condição de coroamento da incompetência. Menos, por favor. Tóquio mostra que o copo com água pela metade pode ser compreendido como meio vazio ou meio cheio. A escolha é de quem vê.

Começarei então a apresentar atletas que foram aos Jogos Olímpicos deste ano e significam para mim o copo meio cheio. Começo pelo remo, presente na história olímpica brasileira desde 1920.

Poucos sabem que o remo era uma modalidade de muito prestígio no passado, que chegava a levar 30 mil pessoas às regatas. Vários clubes de futebol, principalmente no Rio de Janeiro, têm o remo em seus estatutos, razão pela qual essa modalidade continua a existir. E, em Tóquio, Lucas Verthein não apenas manteve a tradição como chegou à final B. Feito digno de reconhecimento e celebração.

Que dirá Hugo Calderano, do tênis de mesa, modalidade dominada pelos chineses, que não só têm time A, como B e C e ainda exportam atletas para todo o mundo.

Desde cedo, Hugo foi preparado para brilhar. Foi a Londres em 2012 para começar a se acostumar com o clima das grandes competições. De lá para cá morou na França e na Alemanha e alcançou a sétima colocação no ranking mundial. Um feito raro para um atleta brasileiro. E ainda foi o primeiro latino-americano a alcançar as quartas de final olímpicas.

Ygor Coelho, criado na comunidade da Chacrinha, começou aos três anos de idade a jogar peteca no quintal de sua casa e dali foi para um projeto social no qual passou a praticar badminton. Em novembro de 2017, alcançou a 32ª posição do ranking da modalidade. Primeiro atleta brasileiro a competir em Jogos Olímpicos nessa modalidade, conseguiu a façanha de ganhar um jogo na competição.

Para Ana Sátila, da canoagem, Tóquio foi a sua terceira participação olímpica. A única brasileira na modalidade chegou pela primeira vez a uma final, com o terceiro melhor tempo na fase classificatória.

Penalizada por não passar por um portão do percurso, ficou sem a medalha, mas alcançou resultados que já entraram para a história.

A derrota tem gosto amargo porque frustra expectativas. Desconheço atletas que tenham chegado a ser olímpico sem passar por essa dor. Tenho convicção de que, assim como Rebeca aprendeu com as derrotas de Daiane dos Santos, outros tantos aspirantes vão se inspirar em atletas como Lucas, Hugo, Ygor e Ana Sátila.

É muito longo o caminho para se chegar ao pequeno pódio. Por isso, espero que seja compreendido que as lágrimas que acompanham uma derrota não são manifestação de fracasso, mas parte do processo que envolve ser atleta.

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