Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio
Descrição de chapéu ginástica artística

Olimpíadas mostraram a importância da psicologia do esporte

Que o exemplo de Osaka e Biles tenha despertado a necessidade cuidar da saúde mental

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Passada mais uma edição olímpica, ainda com a sensação de um vendaval sobre o mar do Japão, leio avaliações de todos os tipos.

Vou me deter àquilo que me considero capacitada a discutir: esses foram os Jogos da saúde mental. Não que antes esse quesito não fizesse parte da boa preparação de atletas, mas porque era inegável a falta de entendimento sobre esse tópico.

E não pensem que o desconhecimento e o preconceito eram coisas aqui da terra brasilis. Psicólogos de todo o mundo costumam bradar a plenos pulmões as dificuldades em superar o preconceito em relação a um tema de fundamental importância, porém altamente controverso.

Isso talvez se deva à complexidade da própria psicologia. Ciência que tem em seu escopo uma variedade teórica que vai do inconsciente à análise do comportamento, passando pelo estudo de grupos sociais ou de pessoas em diferentes estágios do desenvolvimento, viu-se próxima do esporte há quase um século. Isso quando o esporte nem era o fenômeno social que é hoje.

Fato é que durante muito tempo a psicologia do esporte preocupou-se em fazer atletas parecerem superpoderosos, ajudando a azeitar a máquina que tinha finalidades outras além da competição esportiva.

Controlar, render, produzir, dominar eram verbos recorrentes na preparação de atletas para chegar ao lugar mais alto do pódio. As teorias da psicologia do esporte que vinham das grandes potências ofereciam manuais e handbooks com vasto material aplicado nos rincões que normalmente dominavam os quadros de medalhas.

Enquanto isso, aqui no Brasil, construímos uma psicologia do esporte que buscava fazer a diferença. Nosso lema era uma psicologia adequada ao esporte que se faz no país, sem a importação de modelos que podem ser muito eficientes a leste ou a oeste, mas não, necessariamente, adequados à nossa realidade.

Entendíamos desde o princípio a importância de se compreender a identidade dos atletas, as questões culturais implicadas no ir e vir em busca de oportunidades e que atletas são, acima de tudo, pessoas, e não máquinas de produzir resultados.

Para quem não sabe, há apenas 20 anos a psicologia do esporte se tornou uma especialidade da psicologia no Brasil. Nessas duas décadas oferecemos formação e construímos referencial teórico para chegar a uma psicologia do esporte que orgulhosamente chamamos de brasileira.

Naomi Osaka, durante jogo em que acabou eliminada das Olimpíadas de Tóquio
Naomi Osaka, durante jogo em que acabou eliminada das Olimpíadas de Tóquio - Dai Tianfang - 27.jul.21/Xinhua

É um orgulho imenso ver as gerações formadas em nossos cursos oferecer aos atletas o suporte necessário para serem grandes pessoas. Alguns subiram ao pódio, independentemente do degrau, e agradeceram direta ou indiretamente aos profissionais que cuidaram de sua saúde mental.

Assisti com prazer a presença de várias alunas no dever de ofício ali nas arenas. Uma delas vibrava tanto na disputa da medalha do boxe que dava a impressão que cairia lá de cima. Porque é isso, mesmo com todo o controle sobre o processo, há que celebrar as conquistas. Assim como lamentar a eliminação precoce.

Espero que haja cada vez mais profissionais qualificados para oferecer o suporte necessário a tantas pessoas que se dedicam a uma carreira com exigências acima da média. Que o exemplo de Naomi Osaka e Simone Biles tenha de fato despertado para a necessidade de cuidados com a saúde mental.

Espero não mais ter que acordar pela manhã, um dia após a cerimônia de encerramento, e ler uma manchete sobre a morte trágica de uma ciclista como a neozelandesa Olivia Podmore. É sabido que a sensação de culpa e frustração pela derrota pode levar a atitudes extremas. Espero que haja cada vez mais psicólogos nas equipes para impedir que isso aconteça.

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