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Economia, pandemia e crise

Estimativas feitas por organizações econômico-financeiras mostram uma importante contração nas economias de um enorme número de países

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Gregorio Vidal

Professor do Departamento de Economia da Universidade Autônoma Metropolitana, Unidade Iztapalapa

Estimativas recentes feitas por organizações econômico-financeiras multilaterais mostram uma importante contração nas economias de um enorme número de países durante o ano de 2020. Foi uma situação prevista há meses por um grande número de organizações e instituições a nível global, explicada majoritariamente pelo surgimento repentino do SARS CoV-2 e sua difusão global. O FMI estima uma contração do produto mundial em 2020 de 3,3%. Entretanto, é uma queda com diferenças importantes e a América Latina é a mais afetada.

A redução da economia latino-americana foi de 7% e, no extremo oposto, as economias emergentes e em desenvolvimento da Ásia diminuíram em apenas 1,1. Por país, entre as maiores economias, com as maiores quedas estão a Espanha com uma queda de 11%, Reino Unido 9,9%, Itália 8,9%, França 8,2%, México e Índia 8%. A exceção é a China, com um crescimento de 2,3%.

No entanto, como está acontecendo em muitas áreas, a desigualdade no desempenho do PIB entre países e regiões é um dos dados que caracterizam a situação econômica, política e social global durante anos. Isto levanta a questão do que explica esta desigualdade, além ou inclusive considerando o incidente da pandemia da Covid-19.

As enormes dificuldades nos sistemas de saúde em quase todos os países para fazer frente à pandemia é outro fato que não pode ser explicado unicamente pela aparição da emergência sanitária. Além disso, devem ser levados em conta as reduções nos recursos públicos destinados à saúde e em muitos países também sua reorganização como atividade sujeita ao mundo do mercado e do lucro.

Também é necessário considerar o baixo ou menor peso da renda dos trabalhadores na renda nacional, que impacta negativamente suas contribuições fiscais, assim como a redução ou contenção salarial aplicada em muitos países, o aumento da precariedade no trabalho e do trabalho informal, que colocam muitas famílias e indivíduos em uma situação mais vulnerável, incluindo suas condições de saúde.

Mais revelador, de um modo profundamente excludente de organizar as atividades econômicas, é a produção e distribuição de vacinas. O espaço das farmacêuticas é notavelmente oligopolista e existem grandes diferenças entre os países para contar com medicamentos muito diversos. Até hoje, um dos resultados desta modalidade de funcionamento dos mercados é que a maior parte das vacinas para a Covid-19 foi destinada a um grupo reduzido de países e a pandemia ainda continua presente.

Além disso, se reconhece que a pesquisa e a produção desses medicamentos contaram com financiamento público, o que até agora não significou que outras opções para lidar com a pandemia tenham sido fortemente consideradas.

Fila de pacientes recém-vacinados contra a Covid-19 na Cidade do México
Fila de pacientes recém-vacinados contra a Covid-19 na Cidade do México - AFPPedro Pardo - 11.mai.21/AFP

Uma grande parte dos atores políticos e líderes de várias organizações financeiras multilaterais desconhece o substancial. Por mais de três décadas, o comportamento das economias desenvolvidas e um grande número das chamadas economias de mercado emergentes sofreram crises monetárias e de crédito recorrentes, crises bancárias ou crises no mercado de valores. Nas economias em desenvolvimento, em poucos anos houve desvalorizações de suas moedas em relação às principais moedas que modificam substancialmente suas principais variáveis macroeconômicas.

Além disso, tem havido recessões de algum significado e por mais de uma década tem havido uma fraqueza sustentada no crescimento das economias desenvolvidas e, mais recentemente, em regiões como a América Latina. Este comportamento é muito diferente do dos anos 1950 e 1960 do século 19. Por mais de dez anos, as principais economias da OCDE vêm implementando uma política monetária descrita como acomodatícia, com taxas de juros próximas a zero por cento e a injeção de recursos pelos bancos centrais para manter os mercados financeiros.

O desempenho positivo dos mercados financeiros não foi correspondido por um processo semelhante no espaço de produção, muito menos por melhorias sustentadas no mundo do trabalho. O FMI reconhece o que chama de enorme diferença entre os mercados de trabalho e de produtos, e os mercados de ativos. Ou seja, os mercados de valores, títulos de dívida e qualquer coisa que possa ser convertida em documentos negociáveis, mantêm seu vigor.

Isto é um resultado das políticas executadas pelos bancos centrais. O FMI insiste que isto é necessário e tem sido feito adequadamente. O problema é que estas são medidas executadas desde os anos imediatamente posteriores à crise monetária e financeira internacional de 2008-2009 que não conseguiram restaurar as condições de crescimento nas economias e muito menos reduzir a desigualdade social.

O comportamento das principais economias da OCDE ao longo dos anos indica que a execução de uma política monetária acomodatícia, acompanhada por uma política fiscal caracterizada pela austeridade, é parte do problema. E quando se modifica a política fiscal para fornecer apenas apoios pontuais para manter o emprego ou subsidiar algumas atividades econômicas, com a premissa de retornar à consolidação fiscal, ou seja, recuperar o equilíbrio fiscal o mais rápido possível, não se resolve a crise e muito menos se contribui para reduzir a desigualdade social.

Atualmente, a prioridade é expandir o espaço das atividades produtivas e do mundo do trabalho, e a gestão estatal deve seguir este caminho, subordinando os benefícios financeiros. Um primeiro passo essencial é estabelecer as vacinas Covid-19 como um bem público a nível mundial. Esta é uma condição para restabelecer a capacidade de produção em nossas sociedades como um todo.

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