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População da Venezuela está diminuindo, mas também envelhecendo

Isso não é surpreendente devido à migração em massa e às condições de vida precárias dos venezuelanos

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Nastassja Rojas

Professora da Pontifícia Universidade Javeriana (Colômbia). É pesquisadora sênior da Food Monito e especialista em movimentos migratórios, estudos de gênero e política venezuelana.

No início de agosto foi divulgado um relatório das Nações Unidas que identificou a Venezuela como o país com maior perda de população nos últimos anos, ainda mais do que a Síria.

Estima-se que no ano passado o país teve quase 28,5 milhões de habitantes, semelhante à sua população em 2010, e cerca de 4 milhões a menos do que o esperado.

Isso não é surpreendente devido à migração em massa e às condições de vida precárias.

O que é surpreendente é o envelhecimento acelerado da população e os efeitos que essa nova composição da pirâmide populacional terão sobre o futuro desenvolvimento econômico e social do país.

A primeira causa dessa redução é a migração, especialmente nos últimos seis anos, sem ignorar o fato de que o fluxo começou a aumentar ligeiramente em 2000.

Estima-se que aproximadamente 5,6 milhões de pessoas fugiram da Venezuela e que, mesmo quando há fluxos de retorno, especialmente devido à pandemia de coronavírus, estes não são significativos em comparação com os números dos fluxos de saída.

Oficial de migração checa documentos de estudantes venezuelanos após eles cruzarem a ponte Simon Bolivar, que liga a Venezuela à Colômbia
Oficial de migração checa documentos de estudantes venezuelanos após eles cruzarem a ponte Simon Bolivar, que liga a Venezuela à Colômbia - Schneyder Mendoza - 6.set.2021/AFP

Migração da população jovem economicamente ativa

Estatísticas, produzidas em condições precárias por organizações não governamentais dentro e fora da Venezuela, bem como pelas Nações Unidas, mostraram que a maioria dos migrantes são jovens economicamente ativos.

Isso explica, em grande parte, o envelhecimento da população em poucos anos e o grande número de menores aos cuidados de seus avós ou de outros parentes mais velhos.

A curva populacional começou a cair precisamente em 2015, quando uma das primeiras ondas maciças de migração ocorreu e a deterioração acelerada das condições de vida na Venezuela começou a se tornar evidente internacionalmente, como resultado das políticas implementadas pelo governo.

Como Anitza Freitez, uma professora venezuelana de demografia, salientou, o envelhecimento no país avançou em quase 20 anos.

Isso, juntamente com uma infraestrutura profundamente deteriorada, deixou o país despreparado para cuidar de crianças e adultos mais velhos que não têm familiares em idade produtiva.

Se para muitas pessoas que sobrevivem na Venezuela é um drama por causa dos desafios físicos e psicológicos, para essa população é ainda mais difícil. Prova disso são os numerosos casos de pessoas idosas que morreram sem cuidados. A isso se soma a desvalorização das pensões para menos de um dólar.

Portanto, não é surpreendente que mais de 80% da população idosa na Venezuela viva na pobreza.

Outro problema gerado por essa situação é que os menores são expostos ao recrutamento por grupos criminosos urbanos ou aos perigos colocados pela migração de crianças desacompanhadas.

Esse é um fenômeno que tem aumentado nos últimos anos e que expõe as crianças a uma série de outros riscos, como o tráfico de pessoas.

A migração não garante uma melhoria nas condições de vida ou segurança. Muitas das pessoas que deixaram o país nos últimos anos o fazem a pé ou em barcos artesanais inseguros, sem os recursos econômicos mínimos para cobrir suas necessidades durante a viagem.

Dessa forma, os migrantes são expostos a vários perigos e, em muitos casos, carecem de proteção devido ao seu status irregular.

Além do tráfico de pessoas e do recrutamento forçado, os migrantes são expostos a expressões recorrentes de xenofobia em algumas sociedades receptoras e até mesmo das próprias autoridades.

O recente anúncio feito pela Prefeitura de Bogotá (Colômbia), de sua intenção de criar um comando especial contra a criminalidade estrangeira e de realizar "identificações forçadas", é um claro exemplo disso.

Essa proposta discriminatória, entretanto, parece ser inspirada em uma política do governo peruano para 2020, que criou uma brigada com o mesmo objetivo.

Entretanto, também é importante reconhecer os esforços feitos pelos governos de alguns países vizinhos, especialmente da Colômbia, com a implementação do Estatuto de Proteção Temporária.

Isso, além de conceder aos venezuelanos o benefício da regularização, permite uma compreensão mais clara das características da população migrante, algo que deveria vir do regime venezuelano mas que, devido a seu negativismo, levou a uma má gestão migratória.

​Expectativa de vida

Outro aspecto a ser levado em conta são as dificuldades relacionadas à qualidade de vida, particularmente a alimentação e a saúde, que têm um grande impacto sobre a expectativa de vida e seu declínio no país.

A mortalidade infantil sofreu um retrocesso de duas décadas devido à desnutrição em crianças e mulheres grávidas, enquanto a tuberculose é uma das principais causas de morte nas prisões. Isso sem aprofundar os números de mortes violentas.

Em relação ao número de mortes causadas pela pandemia, que teve um impacto global, no caso da Venezuela ele é desconhecido, já que o que é noticiado pela mídia e por algumas organizações não governamentais está longe das estatísticas e dos registros oficiais.

Tudo isso deixa claro que enfrentar a crise migratória venezuelana requer atenção coordenada e imediata por parte dos países da região.

Mas também não podemos esquecer os mais de 28 milhões de pessoas que ainda vivem na Venezuela, e mesmo aqueles que não desejam migrar e que precisam de toda a cooperação internacional possível para continuar trabalhando para melhorar as condições de vida de milhares de pessoas em meio a uma ditadura.

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