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Relações América Latina-China em tempos de Xi Jinping

A atitude chinesa em relação à globalização e ao livre comércio aproxima a região de sua esfera de interesses

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Sergio M. Cesarin

Coordenador do Centro de Estudos Ásia-Pacífico e Índia (Ceapi) da Universidade Nacional Três de Fevereiro (Untref), em Buenos Aires, e mestre em artes pela Universidade de Pequim

Durante o governo de Xi Jinping, a América Latina e o Caribe (ALC) têm desempenhado um papel importante no fornecimento de capital político e de espaços de maior influência na região em favor da China em relação aos Estados Unidos.

Fatores particularmente importantes têm sido o crescimento sustentado da economia chinesa como demandante de produtos latino-americanos exportáveis, a recepção regional de investimento estrangeiro direto chinês, parcerias produtivas nos setores de manufatura e serviços e financiamento chinês para obras de infraestrutura, entre outros.

Sob Xi Jinping, a estratégia da China em relação à região tem sido consistente e persistente. A atitude proativa da China em relação à globalização e ao livre comércio global aproxima a região de sua esfera de interesses.

Conforme expresso pelo presidente Xi Jinping, as aspirações da China de construir uma "globalização menos assimétrica", fomentar a "cooperação internacional mútua" e promover a construção de uma "comunidade de destino comum para a humanidade" coincidem com os interesses e valores latino-americanos.

Desde a ascensão ao poder de Xi, a trajetória da China como potência emergente evolui sob o paradigma do "sonho chinês" de restauração, desenvolvimento e modernidade para meados deste século.

No nível político, esse horizonte serve para consolidar a figura presidencial como líder máximo e centro das principais decisões sobre políticas públicas.

No nível econômico, a visão de uma China restaurada promove a reconversão do aparelho produtivo nacional por meio de políticas ativas de desenvolvimento científico e tecnológico, bem como a projeção de seu poder militar para a região e o mundo.

O presidente chinês, Xi Jinping, discursa em cúpula em Pequim comemorativa do 30º aniversário das relações de diálogo entre a China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático
O presidente chinês, Xi Jinping, em cúpula em Pequim comemorativa do 30º aniversário das relações de diálogo entre a China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático - Huang Jingwen - 22.nov.2021/Xinhua

​A transformação da China contemporânea

Durante toda essa trajetória, passada e presente, a liderança presidencial tem sido e continua sendo inquestionável.

Uma liderança construída com base em uma reengenharia normativa dos estatutos do partido que permite que Xi permaneça no poder indefinidamente, pondo assim fim aos arranjos institucionais e equilíbrios interfaccionais dentro do Partido Comunista da China (PCC) estabelecidos por Deng Xiaoping na aurora do processo de reforma.

Os argumentos apresentados para confirmar a centralidade de sua figura como "núcleo" (hexin) são a necessidade de garantir a estabilidade interna e assegurar a governança em tempos de crescentes tensões internas e externas (leia-se conflito com os Estados Unidos), sustentando a campanha anticorrupção como um instrumento-chave para garantir a disciplina partidária, expandir a participação estatal na economia nacional, persistir na construção do poder tecnológico, promover planos de modernização militar a fim de assegurar a defesa do país contra ameaças externas e proteger as áreas marítimas vizinhas consideradas pela China como sob sua soberania (mar do Sul da China).

Internamente, a liderança de Xi tem sido caracterizada pelo abandono do estilo predominante de "centralismo democrático", reavivando um discurso baseado na supremacia ideológica do marxismo-leninismo como guia político do partido, a rejeição dos valores ocidentais, dos padrões de direitos humanos ou das formas pró-democráticas de organização política, alusões presentes nos discursos e pronunciamentos voltados para quadros políticos, oficiais, Forças Armadas, empresários e a sociedade em geral.

Externamente, a adoção de posições assertivas por parte de Xi mostra características de militarização da política externa chinesa na região, posições menos conciliatórias em questões sensíveis como a reunificação com Taiwan sob o governo pró-independência do Partido Democrático Progressista (PDP) ou a democratização de Hong Kong, aumento da atividade militar no mar do Sul da China, tensões fronteiriças persistentes com a Índia e a escalada de tensões (políticas, comerciais e militares) com os EUA.

Enquanto a situação dos direitos humanos de minorias étnicas como os uigures,ou dúvidas sobre a responsabilidade da China pelo início da pandemia de Covid corroeram sua imagem internacional, uma mistura de "diplomacia de lobos" e "diplomacia das vacinas" mitigou os impactos negativos sobre seu soft power, reposicionando o país como um promotor da "universalização" das vacinas, considerando-as um "bem público global".

Nesse contexto, na era pós-Trump e sob o presidente Biden, persistem os "esforços bipartidários" dos EUA para conter a China.

A estratégia é multifacetada: neutralizar os esforços chineses para reformular as "antigas instituições" herdadas da ordem mundial do século 20, conter sua expansão militar no mar do Sul da China e no Indo-Pacífico, sustentar suas vantagens em áreas de alta tecnologia, reafirmar alianças com parceiros asiáticos (coalizões entre democracias), prevenir a espionagem cibernética chinesa e mitigar o déficit comercial bilateral.

Diante de um mundo instável, a China e a América Latina e o Caribe em geral estão avaliando as vantagens e desvantagens mútuas de uma abordagem que suscita desconfianças em Washington.

Estados Unidos relutantes

A incorporação dos países latino-americanos nos planos de conectividade global da China sob a abordagem de parceria global (Obor/BRI) e sua integração ao Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura são linhas de ação incentivadas sob a presidência de Xi.

Nesse contexto, os EUA, de perfil mais conservador e militarista, estão relutantes em consentir a expansão da presença da China na ALC e aspiram a reconstruir a confiança e recuperar os espaços regionais de influência perdidos.

Sem renunciar aos princípios históricos de ação no sistema internacional, uma China poderosa no século 21 só poderia aspirar a modificar uma ordem mundial herdada em grande parte do século 20.

A empatia da China com a ALC possibilita a abertura de canais diplomáticos formais e informais por parte dos governos, incentiva o ativismo empresarial, o desenvolvimento de estudos acadêmicos e uma maior compreensão mútua.

Como foi o caso durante a Guerra Fria, apesar da cautela dos EUA, prevalece a percepção da China como um "parceiro de desenvolvimento regional" e se pressupõe a futura densificação de uma agenda de cooperação sino-latino-americana.

Coluna inicialmente publicada no site da Redcaem

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