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A honestidade das palavras e a ética na comunicação

Em tempos de desconfiança crescente, o plágio só contribui para o descrédito da esfera pública

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Melany Barragán

Cientista política e professora na Universidade de Valência. É doutora em Estado de Direito e Governança Global pela Universidade de Salamanca. Especializada em elites políticas, representação, sistemas partidários e política comparativa.

Kapuscinski disse que o jornalismo não era uma profissão para cínicos. Dado o volume de informação, a rapidez com que ela circula e o grande número de pessoas que, de uma maneira ou de outra geram conteúdos, me atreveria a dizer que comunicar não é uma atividade para cínicos. O fato é que, à medida que aumenta a capacidade para transmitir ideias e viralizá-las, torna-se cada vez mais necessário estabelecer diretrizes de ética e responsabilidade.

Junto com a falta de rigor, a proliferação de notícias não verificadas e o auge das fake news, em grande medida derivadas da necessidade dos meios de comunicação de serem os mais rápidos a publicar, ganhar visibilidade e gerar o maior volume de notícias possível, aparece um novo fantasma: o plágio. Esta prática tornou-se mais aguda com o desenvolvimento do jornalismo digital, já que se acelerou drasticamente a geração de conteúdo e a viralização da informação por inúmeros canais, diluindo a autoria e facilitando sua apropriação.

O plágio converteu-se em uma prática mais habitual do que se crê e cada vez mais são os intrusos que decidem se apropriar das palavras de outro, usurpando o nome do autor para comercializá-las como se fossem suas. Em algumas ocasiões, esta ação é deliberada. Em outras, responde mais a uma falta de esmero do que de uma má prática consciente, à qual todos nós estamos suscetíveis de cair.

Leitores olham capas de jornais em banca de Lisboa, em Portugal
Leitores olham capas de jornais em banca de Lisboa, em Portugal - Rafael Marchante/Reuters

No entanto, isto não diminui sua seriedade. Seja como for, esta prática, totalmente repreensível, torna-se ainda mais ultrajante se ocorre entre aqueles que, de uma maneira ou de outra, se dedicam ao mundo da comunicação e da divulgação. Com o plágio, não só se manifesta uma falta de ética, mas também uma falta de verdade e rigor ao omitir a autoria da informação que é colocada à disposição dos leitores.

Ademais, o plágio contribui para degradar a atividade profissional do jornalista ou daquele que, a partir de seu campo de conhecimento, contribui para a difusão de ideias ou evidências. Se a transparência, a ética e a responsabilidade constituem as regras de ouro para quem aspira a participar do debate público, então como convidar o leitor a pensar ou repensar suas posições se não somos sequer capazes de moldar as nossas próprias e suplantamos as de outro autor?

No contexto latino-americano, esta preocupação com a honestidade intelectual está incluída nos códigos deontológicos das principais associações de jornalistas da região. Mas, além disso, o respeito pela autoria dos dados e resultados faz parte do núcleo duro das normas de rigor compartilhados por essas associações, além de outras, como a contextualização da informação ou da transparência. Entretanto, o estabelecimento de códigos de conduta não é uma garantia suficiente para evitar práticas como o plágio.

Entre aqueles que colaboram com os meios de comunicação, seja como jornalistas, escritores ou especialistas, têm havido numerosos casos de plágio. Alguns deles tiveram uma grande repercussão, como o de Bryce Echenique, que foi acusado de plagiar 16 artigos de 15 autores diferentes publicados em diferentes meios de comunicação peruanos e espanhóis. Outros, com menor repercussão a nível internacional, têm afetado diferentes jornalistas. O argentino Guillermo Giacosa foi demitido do Peru21 após ser acusado de plagiar textos das mídias internacionais como Rebelion, Página 12 e La Jornada. Na Colômbia, a então editora da seção internacional do El Colombiano, Diana Carolina Jiménez, também foi demitida em 2016 por plágio.

Fora da América Latina, são inúmeras as experiências de plágio por parte de profissionais renomados. Jayson Blair copiou, quando trabalhava para The New York Times, informações de outros meios de comunicação. Marie-Louise Gumuchian, ex-editora da CNN, também caiu em tentação, assim como Fareed Zakaria, que trabalhou para Time e CNN, e o colunista do The Washington Times, Arnaud de Borchgrave. Todos eles tiveram que enfrentar as consequências de suas ações e seu prestígio foi minado.

Em tempos de desconfiança crescente, o plágio só contribui para o descrédito da esfera pública. A mídia, como atores fundamentais da democracia, tem a obrigação não só de informar, mas também de agir de forma ética, honesta e rigorosa já que constitui uma das ferramentas fundamentais para conhecer e interpretar a realidade. Salvando as distâncias, as redes sociais podem se tornar um espaço de conhecimento, intercâmbio e discussão. Entretanto, na prática, esta finalidade, em muitas ocasiões, se desvirtua e a desinformação e práticas antiéticas distorcem a função dos meios de comunicação.

Por último, cabe mencionar que o importante são as histórias e o conhecimento compartilhado, não quem os conta. Só assim seremos capazes de deixar de lado nossos egos e focar na realidade que tentamos descrever ou explicar, que, no fim das contas, é o que realmente importa.

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