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Segundo turno na Costa Rica, com surpresa

Nenhuma das pesquisas projetava que Rodrigo Chaves seria o segundo candidato mais votado

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Enrique Gomáriz Moraga

Sociólogo, participou da Zona Aberta e da refundação do Leviatã. Foi consultor internacional de PNUD, UNFPA, GIZ, IDRC e BID

Como as pesquisam haviam previsto, nenhum dos 25 candidatos que concorreram no primeiro turno das eleições obteve 40% dos votos, fazendo com que a Costa Rica vá a um segundo turno, no dia 3 de abril, entre os dois candidatos mais votados.

Enquanto as pesquisas previam que José María Figueres, do Partido da Liberação Nacional, obteria o maior apoio (obteve 27,4%), nenhuma das pesquisas projetava que Rodrigo Chaves, do Partido do Progresso Social Democrático, seria o segundo candidato mais votado.

Chaves, que ocupava a quarta posição com apenas 9% das intenções de voto, ultrapassou Nineth Saborío, do Partido Social Cristão (15%) e Fabricio Alvarado, do Partido Confessional Evangélico (13%).

Logo após as primeiras contagens, e com uma estreita diferença entre Alvarado e Chaves, finalmente foi este último concorrerá com Figueres no segundo turno.

Rodrigo Chaves, candidato à Presidência da Costa Rica que disputará o segundo turno, exibe os punhos fechados em discurso a apoiadores em San José
Rodrigo Chaves, candidato à Presidência da Costa Rica que disputará o segundo turno - Randall Campos - 6.fev.2022/AFP

Dois dados não menos surpreendentes surgiram desse dia de eleições. O primeiro refere-se ao aumento da abstenção, que passou de uma média de 30% para 41%.

Existe um consenso sobre o peso que tomou a delicada situação sanitária causada pela pandemia na Costa Rica. De fato, o líder liberacionista Oscar Arias anunciou na véspera que, por conselhos médicos, não votaria em seu colégio eleitoral. Tudo indica que uma proporção significativa das pessoas de mais idade tomou essa mesma decisão.

A abstenção entre os jovens está relacionada com o segundo grande fenômeno do dia: a estrondosa derrota do partido no poder, o Acción Ciudadana (PAC), que não conseguiu sequer 1% nesta eleição.

Esse ínfimo apoio eleitoral havia sim sido previsto pelas pesquisas. Mas dado o nível de eleitores indecisos, que se manteve em cerca de 40% até ao final da campanha, o que incluiu uma elevada proporção de votos ocultos, muitos observadores esperavam um apoio final maior ao PAC.

No entanto, essa legenda protagonizou algo inédito na história da Costa Rica: o partido de saída do poder não só perdeu completamente as eleições como ficou de fora do Parlamento.

Esse fenômeno é também incomum porque seu candidato aderiu publicamente ao progressivismo, que obteve resultados tão bons no sul do continente. É provável que uma parte do abstencionismo dos jovens venha daqueles que, não repetindo seu voto no PAC, tenham preferido a abstenção.

A outra grande derrotada do dia foi a candidata social cristã, Nineth Saborío. Desde o início da campanha, as pesquisas previam que seria ela a acompanhar Figueres no segundo turno.

Mas as insuficiências da candidata logo se tornaram evidentes: uma política experiente nas administrações do seu partido, caracterizada por um discurso sem substância e que aposta tudo numa negociação posterior, sem orientações de partida.

Por isso, nos debates, os concorrentes insistiram em pedir-lhe propostas concretas, mas não receberam mais do que promessas de negociações.

Nos últimos encontros televisivos, a candidata procurou refúgio numa imagem de mulher politicamente assediada, o que parece ter sido contraproducente.

Alguns dos dirigentes históricos do seu partido, como Luis Fishman, alertaram para o erro de ter proposto a sua candidatura, algo que se confirmou com a diferença entre o apoio nos deputados, onde o PUSC conseguiu manter a sua força, e a queda de Saborío, que no final ficou em quarto lugar na corrida eleitoral.

Chaves fez uma mudança surpresa para o segundo turno, passando de uma intenção de votos de 4% no início da campanha para obter 16,65% dos votos.

O economista do Banco Mundial, ministro das Finanças do atual governo do PAC até que renunciou por desacordos com o presidente Carlos Alvarado, apresenta um diagnóstico severo dos fatores que levaram à crise econômica e política da conjuntura atual e também propõe soluções contundentes para encará-la.

O seu discurso é visto de uma forma controversa: por uns, como autoritário e soberbo, baseado unicamente na suficiência técnica; para outros, ele tem a proposta robusta e firme que o país precisa para sair da estagnação econômica e da crise de confiança política.

Esse candidato conseguiu, além disso, avançar para o segundo turno superando as acusações de assédio sexual que recebeu durante o seu tempo no Banco Mundial, as quais, embora não comprovadas no processo do banco, têm sido utilizadas insistentemente pelos seus opositores.

De fato, após o último debate, as redes sociais davam como morta a candidatura de Chaves, uma vez que ele sofreu um bombardeio sistemático.

Vários observadores salientam que é difícil determinar se esses comentários prejudicaram o apoio a Chaves (que teria obtido ainda mais votos se não tivessem ocorrido) ou se, pelo contrário, foram entendidos como ataques pessoais ao candidato, o que fez com que a votação se inclinasse a seu favor.

As surpresas surgidas no primeiro turno aumentam a dificuldade de vislumbrar qual será o resultado do segundo.

Ambos os candidatos concordam que o país está naquilo que descrevem como uma emergência nacional, mas diferem em como enfrentá-la.

Para Figueres, a crise será superada abrindo o país ao mundo e dando um salto tecnológico, especialmente em matéria energética e de conectividade, o que requer mudanças na educação, enquanto apenas propõe reformas moderadas ao quadro institucional existente.

Chaves, pelo contrário, visa harmonizar a introdução de programas internacionais de sucesso na Costa Rica com mudanças substanciais nas instituições públicas e privadas do país.

Outra diferença está relacionada com o fato de que Figueres conta com uma ampla equipe de quadros e Chaves está construindo os seus.

O candidato José María Figueres, que avançou para o segundo turno na eleição presidencial da Costa Rica com 27% dos votos, acena para simpatizantes em San José
O candidato José María Figueres, que avançou para o segundo turno na eleição presidencial da Costa Rica com 27% dos votos - Luis Acosta - 6.fev.2022/AFP

O fato de que Figueres ter superado Chaves por dez pontos no primeiro turno sugere que o cálculo da probabilidade favorece o candidato liberacionista.

No entanto, as pesquisas mostram uma elevada rejeição a Figueres (pessoas que declaram que nunca votariam nele), que vêm se mantendo em cerca de 40% ao longo de toda a campanha.

Dado que Chaves também apresenta um voto de rejeição significativo, tudo parece indicar que a eleição do próximo presidente seguirá o método de descarte (escolha do menos pior), que tem se manifestado em eleições anteriores.

Isso irá provavelmente eliminar o período de carência para o próximo presidente, que terá de enfrentar uma agenda cheia de problemas e um Legislativo dividido, onde o Liberação tem apenas um terço das bancadas e o partido de Chaves, 17% dos assentos.

Um horizonte de consideráveis turbulências se antecipa.

Tradução de Giulia Gaspar

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