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Sputnik V, a vacina dos influenciadores

A vacina não foi apenas a primeira a ser registrada contra o Covid-19, mas também a que teve uma das estratégias mais marcantes de divulgação em redes sociais

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Gustavo A. Rivero

Mestre em estudos internacionais na Universidade de Los Andes (Colômbia)

A vacina Sputnik V não foi apenas a primeira a ser registrada contra o Covid-19, mas também a que teve uma das estratégias mais marcantes de divulgação em redes sociais. O órgão de mídia financiado pelo governo russo noticiou, no melhor estilo storytime próprio de um influenciador a vacinação dos seus jornalistas mais populares com o objetivo de demonstrar sua eficácia e mitigar o ceticismo que a cercava.

Para o público de língua inglesa, a correspondente de guerra Maria Finóshina e o cineasta de documentários Konstantin Rozhkov foram voluntários, e para a América Latina foi Inna Afinogenova, que é a apresentadora do popular canal do YouTube Ahí les va. Eles se encarregaram de mostrar ao mundo sua experiência após terem sido inoculados via internet.

O desenvolvimento desta estratégia de propaganda digital de vacinas não é fortuito. De fato, alguns especialistas o consideram como parte da diplomacia de vacina e/ou poder suave, que consiste em utilizar esse desenvolvimento científico, tanto sua distribuição geográfica quanto o uso da mídia associada à Rússia, para melhorar sua imagem e influência em países estrangeiros.

Entretanto, alguns céticos acreditam que esta estratégia é apenas mais uma ferramenta da desinformação produzida pelo Kremlin para inundar as mídias sociais com conteúdos falsos, conspiratórios e propagandísticos para desestabilizar as democracias globalmente.

A vacina do laboratório russo Gamaleya conta com uma eficácia de 91,6% contra o vírus da Covid-19 sintomático, segundo a revista médica britânica The Lancet Regional Health Americas. Estes resultados foram recebidos com ceticismo pelos países europeus, Estados Unidos e OMS devido a seu rápido desenvolvimento e práticas antiéticas como a falta de transparência nos relatórios e no processo de fabricação.

Apesar disso, a vacina foi utilizada em 11 países da região, incluindo Antígua e Barbuda, Argentina, Bolívia, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, São Vicente e Granadinas e Venezuela, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde.

Isto poderia ser uma confirmação do chamado retorno do Kremlin à América Latina, no qual a Rússia procura se posicionar como um novo aliado para o desenvolvimento econômico e social, distanciando-se levemente da abordagem militar que historicamente a caracterizou.

Propaganda, jornalismo e influenciadores

A estratégia de divulgação digital da Sputnik V tem dois componentes essenciais: o site e o conteúdo dos apresentadores nas mídias sociais. O site foi lançado em agosto de 2020 e está disponível em nove idiomas: russo, inglês, mandarim, árabe moderno padrão, espanhol, português, francês, tagalo e malaio. Também tem suas respectivas redes sociais no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube.

Tem até mesmo uma seção bastante atraente chamada mídia, onde é possível encontrar um grande número de comunicados de imprensa que foram produzidos sobre o fármaco em todo o mundo. Alí também estão presentes meios de comunicação da região como Prensa Latina de Cuba, Télam da Argentina e Canal 4 do Uruguai. Em outras palavras, o conteúdo deste site e suas redes tornaram-se a fonte oficial de informações sobre a vacina que procura dissipar a desconfiança em torno dela.

O segundo componente da estratégia é o conteúdo produzido pela jornalista mais popular da RT na América Latina, Inna Afinogenova, que tem 306.668 seguidores no Twitter e recentemente alcançou um milhão de assinantes no YouTube. A fim de criar mais confiança entre o público hispanohablante, a jornalista foi voluntária para a fase III da vacina e compartilhou sua experiência em suas redes sociais.

Em setembro de 2020 anunciou sua participação no processo de 180 dias em um tweet que recebeu mais de dez mil curtidas. Depois fez uma série de publicações destacando a eficácia da vacina, três das quais aparecem entre as 10 mais retweetadas em relatos com geolocalização na Colômbia, de acordo com a pesquisa do Lanterna Verde.

No dia 23 de setembro de 2020, Inna publicou um vídeo em seu canal no YouTube no qual relata, em formato de vídeo-blog, sua experiência pessoal ao ter sido inoculada. Este vídeo obteve mais de 400 mil visualizações e mais de cinco mil comentários. Estes últimos foram criados por usuários de diferentes países como Argentina, Colômbia, Cuba, México, Venezuela, entre outros, que repetidamente a parabenizam e lhe agradecem pela sua coragem neste processo para acabar com a pandemia.

Alguns deles até mencionaram que consideravam uma honra ser voluntário para os ensaios da vacina. Nos meses seguintes, Inna continuou a postar conteúdo analisando a recepção do SputnikV na região via YouTube, além de sugerir que a crítica à vacina é uma campanha de desinformação contra a Rússia.

Manipulação ou sucesso na internet?

Muitos analistas e jornalistas questionaram recentemente o sucesso digital da RT na América Latina, sugerindo que a métrica e os dados de interação não são confiáveis, pois são produzidos por supostos bots -contas semi-automatizadas- que são responsáveis por tornar este tipo de conteúdo viral. Diante disso, a pesquisa, pelo menos na América Latina, permanece inconclusiva. Portanto, a academia e as organizações da sociedade civil devem continuar a monitorar o comportamento desses meios de comunicação filiados e seus seguidores, a fim de obter resultados conclusivos.

É certo que a estratégia de divulgação da Sputnik V é um exemplo da adaptação bem-sucedida da mídia russa e de seus responsáveis pelas mídias sociais na América Latina. Inna é um excelente exemplo disso, usando suas redes para tentar desmistificar o ceticismo sobre a vacina. Além disso, ela tem usado as plataformas digitais para alcançar novos públicos, especialmente os jovens, com um formato novo e uma linguagem sarcástica que a tem posicionado na região.

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