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A liderança efêmera

Três líderes de direita, centro e esquerda na Espanha podem servir de guia para entender a América Latina

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Manuel Alcántara

Professor de ciências políticas na Universidade de Salamanca e autor de 'El oficio de político'

O ritmo com que a atividade política tende a devorar aqueles que se dedicam a ela é um assunto sobre o qual se tem menos dados do que deveria. Embora a atenção esteja frequentemente centrada naqueles que ocupam os cargos de maior proeminência, o fato de que milhares de pessoas dedicadas à política serem objeto de pouca atenção contribui para não ter uma ideia sólida da duração de uma carreira política nem de suas características.

Poucas vezes, no entanto, os acontecimentos permitem-nos refletir sobre o assunto para articular uma pequena agenda de investigação. Aconteceu na Espanha nos últimos dois anos e meio no seio da liderança de três formações estatais que ocupam a direita, o centro e a esquerda do espectro político tem certo interesse a este respeito e pode servir de guia orientador para entender a política atual na América Latina, onde não é difícil encontrar casos semelhantes.

Trata-se de três homens nascidos em um intervalo de três anos em Madri, Barcelona e Palência, com estudos universitários em direito e ciência política. Dois deles entraram na política profissional com a mesma idade de 26 anos, e o terceiro, com 36, embora o seu ativismo político no âmbito da comunicação e da consultoria tenha começado a se desenvolver uma década antes.

Enquanto dois deles começaram as suas carreiras no quadro regional, o outro o fez no quadro europeu, coincidiram nas Cortes, alcançaram a liderança de suas respectivas formações em uma idade também muito similar e deixaram a política também entre novembro de 2019 e abril de 2022, não chegando a atingir nenhum deles a idade de 43 anos.

Em suas vidas pessoais foram pais, um de três filhos e dois de dois filhos. A saída da política, para aqueles que não tinham um trabalho fixo prévio, lhes permitiu mobilizar seu capital político acumulado para voltar a desempenhar-se profissionalmente no campo da comunicação e da investigação ou para trabalhar durante menos de dois anos num escritório de advogados com escassos resultados profissionais.

Pablo Iglesias Turrión (Madri, 1978), fundador e líder da Podemos, é advogado e cientista político com um doutorado. Foi professor na Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia da Universidade Complutense de Madri entre 2003 e 2014, trabalhando simultaneamente com comunicação (TV e imprensa) e consultoria. Foi deputado europeu durante um ano a partir de 2014, quando entrou formalmente na arena política, e deputado do parlamento espanhol entre 2015 e 2021. Deixou a política em maio do último ano após obter resultados eleitorais insatisfatórios nas eleições regionais de Madri em que se tinha candidatado, demitindo-se de uma das vice-presidências do governo da Espanha.

O então deputado do parlamento espanhol, Pablo Iglesias Turrión - Emilio Naranjo-29.abr.2020/AFP

​Albert Rivera (Barcelona, 1979), fundador e líder da Ciudadanos. É advogado e trabalhou numa instituição financeira (La Caixa) entre 2002 e 2006. Foi deputado do Parlamento da Catalunha entre 2006 e 2015 e nas Cortes entre 2015 e 2019. Deixou a política em novembro deste ano após o fracasso eleitoral do seu partido.

Pablo Casado (Palencia, 1981) é advogado e foi deputado na Assembleia de Madri entre 2007 e 2009. Ocupou um cargo de confiança entre 2009 e 2011 e foi deputado nas Cortes de 2011 a 2022. Foi líder nacional do Partido Popular durante 32 meses e deixou a política em abril de 2022 como consequência de uma crise interna no seu partido.

Três personagens que, após uma carreira política de, em média, quinze anos, deixaram de ter a notável influência de que gozaram em uma etapa da política espanhola que começou na crise financeira de 2007. A profissionalização política dos três foi uma consequência direta da crise e as suas carreiras culminaram com a turbulência desencadeada pela pandemia. Outros países latino-americanos podem mostrar cenários não muito diferentes.

Assim, é possível que o Chile se encontre hoje em um caminho semelhante, como consequência da renovação política registrada no país após as últimas eleições no final de 2021, com as que, em certa medida, se culminava um processo iniciado dez anos antes. A mudança se produziu em distintos âmbitos ideológicos do espectro político, mas se observarmos para o terreno governamental, Camila Vallejo, a atual secretária-geral do governo prestes a completar 34 anos, oferece pistas interessantes.

Em algumas declarações recentes realizadas ao periódico La Tercera, com respeito ao grupo geracional no qual está integrada, a política salientava que "uma das coisas mais importantes que temos, como experiência política, é que fomos formados na luta de rua estudantil".

Numa dimensão ideológica oposta, na vizinha Argentina, Javier Milei, um economista provocador, comunicador e analista, levanta a sua voz messiânica desde o Congresso Nacional para o qual foi eleito deputado em 2021 e prepara o seu individual ataque à Casa Rosada para 2023. Apenas tem mais bagagem que seu febril credo libertário, o confronto com a casta no poder e a busca de uma sintonia eleitoral num país duramente atingido pela sua má situação econômica e seu desesperado clima de desigualdade social.

Lideranças à mercê da conjuntura, da fortuna e da era líquida em que se inserem.

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