Laura Carvalho

Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, autora de "Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico".

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A crise e o Rio

Para pôr fim à crise econômica no Rio, é preciso sobretudo pôr fim à crise econômica no país

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Militares dentro da comunidade Kelson, no Rio de Janeiro. - Danilo Verpa / Folhapress

Após gastar suas fichas no Congresso com a rejeição às sucessivas denúncias de corrupção do ano passado, o governo Temer viu-se obrigado a mudar de assunto e trocar seu público-alvo.

Diante da não aprovação da reforma da Previdência e da perda iminente do único apoio que tinha --o dos tais agentes de mercado --, passou a apostar numa intervenção militar no Rio de Janeiro como forma de garantir popularidade em setores mais amplos da sociedade.

Além de representar uma clara tática diversionista, a intervenção vem sendo criticada por diversos especialistas em segurança pública em razão da ineficácia desse tipo de operação em atacar as origens do problema de segurança no Estado e o crime organizado em geral --sem falar nas mortes de inocentes e outros danos causados à população.

Considerando que os dados não mostram nenhuma explosão de violência no Rio de Janeiro durante o Carnaval ou mesmo no ano de 2017, faz-se necessário entender também como foi construído o contexto em que a perda de autonomia do Estado fosse percebida como natural ou necessária por boa parte da sociedade.

Embora os Jogos Olímpicos tenham contribuído para adiar os efeitos, no Rio de Janeiro, da profunda recessão que já assolava o país desde 2015, a escalada de desemprego que se seguiu fez jus ao que se esperaria --em meio à Operação Lava Jato e à queda no preço internacional das commodities -- de um Estado com altíssima dependência das cadeias produtivas de petróleo e construção.

Com sua economia paralisada e uma queda brutal na arrecadação tributária, os problemas fiscais não demoraram a aparecer. Diante da falta de recursos --e, sem dúvida, prioridades um tanto quanto questionáveis --, o corte de despesas públicas e os atrasos no salário de servidores passaram a alimentar ainda mais a espiral recessiva.

Em meio à crise cada vez mais profunda, as repercussões da Operação Lava Jato, que culminaram com a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, contribuíram para que o Rio passasse a ser visto não apenas como o principal afetado pela crise econômica e política que assolava o resto do país e sim como seu epicentro.

A leitura passou a ser a de que o Rio era o responsável por seus próprios erros, afinal elege há décadas governantes corruptos, ineficientes e perdulários. Caberia ao governo federal, portanto, não o papel de ajudar o Estado a sair da tragédia econômica em que se encontra, e sim o de puni-lo --nas finanças e, agora, na segurança pública.

Ora, basta dar uma olhadinha para a crise fiscal e os escândalos de corrupção envolvendo o próprio governo federal, ou mesmo para o papel central do PCC no crime organizado no resto do país, para perceber que pegar o Rio para Judas não resolverá nenhum de nossos problemas.

As reais soluções certamente incluem a revisão na política nacional de drogas e outros tantos pontos destacados pelos especialistas na área de segurança pública. Mas, além disso, para pôr fim à crise econômica no Rio, é necessário sobretudo pôr fim à crise econômica no país.

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