Em artigo publicado em seu blog no jornal New York Times na sexta-feira (9), Paul Krugman arriscou algumas explicações para a crise econômica brasileira que destoam significativamente das que vêm dominando o debate econômico no país nos últimos anos.
Entre as causas elencadas pelo vencedor do Nobel, não compareceram, por exemplo, o excesso de intervencionismo do Estado brasileiro desde a crise de 2008-09 ou a irresponsabilidade fiscal do governo Dilma Rousseff.
Segundo Krugman, a recessão teria sido causada por uma combinação de má sorte e má política. De um lado, o fim do superciclo das commodities e a consequente perda de valor das exportações brasileiras desde 2011 já seriam suficientes para desacelerar a economia.
O impacto do choque externo sobre o consumo das famílias teria sido agravado pelo aumento do endividamento do ciclo anterior.
Já do lado da má política, Krugman dá destaque para o que considera uma resposta totalmente equivocada a tais choques: o corte substancial de gastos públicos em 2015 e a elevação da taxa de juros desde 2013, que teriam aprofundado a recessão.
Em artigo intitulado “Bad luck or bad policy: uma investigação das causas do fraco crescimento da economia brasileira nos últimos anos”, publicado em meados de 2016 —e atualizado no blog do Ibre/FGV em 2017—, o economista Bráulio Borges já havia concluído, a partir da comparação com um grupo de países exportadores líquidos de commodities, que ao menos 38% da desaceleração do PIB per capita brasileiro entre 2012 e 2017 teria sido causada por fatores internacionais.
Mas nem todo o restante é fruto de “bad policy”, pois, como aponta Bráulio, a economia brasileira também sofreu alguns choques internos no período: a crise hídrico-energética de 2013-2015 e os impactos de curto prazo da Lava Jato. Se aceitarmos as estimativas de Bráulio, restam menos de 40% da crise para explicar por erros de política econômica. Mas quais seriam eles?
Diversos estudos convergem em atribuir aos investimentos públicos um alto multiplicador fiscal sobre a renda nacional: cada R$ 1 investido eleva a renda em cerca de R$ 1,5.
Os investimentos federais, que cresciam a mais de 20% ao ano no período 2006-2010, avançam menos de 1% anuais entre 2011 e 2014 e caem mais de 35% em 2015.
Os erros de política não começaram, portanto, no segundo mandato de Dilma: a resposta à desaceleração da economia, causada inicialmente por choques externos e internos, foi conceder valores cada vez mais altos em desonerações de impostos e expandir o crédito de bancos públicos, em vez de investir diretamente em infraestrutura, por exemplo.
Sem perspectiva de retomada do dinamismo do mercado interno, investidores e consumidores endividados passaram a cortar seus gastos, contribuindo para aprofundar a crise e a perda de arrecadação.
Além disso, o represamento de tarifas energéticas e outros preços administrados para controlar a inflação —que acelerava pela desvalorização do real em meio ao choque externo— acabou sendo sucedido por um reajuste brusco nesses preços, que responderam por 38% da inflação de 2015, segundo relatório do Banco Central.
Subir tanto os juros em meio a esse quadro foi um erro grave, mas represar os preços também se mostrou má ideia.
Ao observar o país de fora, Krugman pode ter omitido esses e outros aspectos importantes, mas acertou mais em seu diagnóstico do que os analistas econômicos contaminados pela polarização política.
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