Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Criança é 'idiota útil' ou sabe mais do que muito adulto a importância da ciência?

Dentre as tendências da educação básica está o investimento em iniciação científica

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​Nos protestos desta quarta-feira contra cortes na educação, crianças e adolescentes estavam entre os manifestantes que Bolsonaro chamou de “idiotas úteis”, “militantes” e “massa de manobra”, que “não sabem nem a fórmula da água”. Eles fazem parte, contudo, de uma geração que aprende cada vez mais cedo a importância da pesquisa científica, arriscada por essa gestão a passar por um apagão. Apesar das falhas na educação do Brasil, perpetuadas por tantos governos, é um alento.

Dentre as tendências dos últimos anos para a educação básica, uma das mais fortes é o investimento em iniciação científica e na aproximação com a linguagem acadêmica. Algo que antes acontecia somente na faculdade ou, na melhor das hipóteses, ao fim do ensino médio, hoje já faz parte do currículo até do ensino infantil em colégios de ponta.

 

O Porto Seguro, por exemplo, no Morumbi (zona sul de São Paulo), tornou-se em 2018 a primeira sede na América Latina da Casa do Pequeno Cientista. O movimento internacional foi criado por pesquisadores alemães para estimular o gosto pela investigação com atividades para crianças de 3 a 6 anos. Com apoio do governo da Alemanha, está presente em mais de 28 mil escolas de ensino infantil do mundo.

Outra novidade que se dissemina é o STEM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática). A metodologia ensina essas áreas de forma cruzada através de projetos, e o objetivo central é despertar os alunos para a educação científica. Além do Porto Seguro, que sediou no ano passado um encontro nacional para discutir a inclusão do STEM nos currículos do Brasil, outros colégios já o adotam, como o Móbile, na Vila Nova Conceição, e o Bandeirantes, no Paraíso (zona sul de São Paulo).

Além desses exemplos da elite econômica, escolas com mensalidades mais acessíveis já incorporam a cultura “maker”, ou seja, um espaço em que os alunos aprendem o conteúdo construindo objetos ou fazendo experiências em laboratórios. É o caso da Escola Mais, inaugurada em 2018 na Penha (zona leste de São Paulo) com a proposta de levar educação inovadora à periferia. Com a mensalidade de R$ 690, tem um laboratório “maker” para projetos de STEAM (variação do STEM que inclui artes). Na rede pública, a robótica já conquistou seu espaço, e o STEM começa a gerar interesse.

Aulas e fóruns de iniciação científica também já são oferecidos desde o ensino fundamental, com alunos de 11, 12 anos defendendo seus estudos diante de bancas de avaliação. O movimento levou a revista científica “Convenit Internacional”, editada por professores da USP com textos de pesquisadores internacionalmente renomados, a criar uma edição para artigos de estudantes do ensino fundamental e médio.

Professores envolvidos nesses projetos percebem que os alunos não só despertam para a importância da pesquisa científica, como também aprendem a buscar mais profundidade e fontes confiáveis para estudar e se informar em todas as áreas.

Uma habilidade fundamental para tempos de “fake news” em um país em que o ministro da educação, se sabe a fórmula da água, confunde Kafka com kafta.

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