Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Ensino a distância ou férias antecipadas no isolamento, o novo 'Fla-Flu' da educação

Há que se levar em conta que as experiências das famílias neste contexto são infinitamente diversas

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Tornou-se um “Fla-Flu” entre pais de alunos e escolas particulares o dilema entre antecipar as férias de julho ou manter o ensino à distância diante do prolongamento da quarentena imposta pelo coronavírus. A pressão das famílias pró ou contra a antecipação só aumenta conforme os dias se passam. Os nervos estão à flor da pele.

Aqui em casa foi um baque a notícia de que a escola do meu filho caçula, que está no sexto ano, iria antecipar as férias, que serão dadas de 22 de abril a 21 de maio. Para ele, as aulas online ao vivo são um grande eixo emocional, dando-lhe uma rotina, fazendo com que se sinta produtivo e especialmente proporcionando o encontro diário com os amigos da sala e os professores. Claro que o conteúdo não é passado da melhor maneira; óbvio que está longe da experiência presencial.

Mas o que queremos para este momento tão sofrido? Que alguém de quem ele gosta e que admira lhe pergunte como estão seus dias, que possa partilhar as incertezas, as angústias e construir com sua turma formas de superar as dificuldades e de se divertir apesar de tudo. E que aproveite este laboratório coronavírus para refletir sobre a importância do conhecimento, do pensamento crítico, da capacidade de resolver problemas.

Teste para aula à distância pelo colégio Porto Seguro
Teste para aula à distância pelo colégio Porto Seguro - Divulgação

Mas o nó de tudo isso é que, além de se considerar os inúmeros entraves jurídicos e administrativos que a escola tem de equacionar, as experiências das famílias neste contexto são infinitamente diversas. E, depois de um primeiro momento de encantamento com o esforço de todos em tirar da cartola o ensino à distância, com imagens fofas de crianças diante do computador em conferências online, crescem nas redes sociais demonstrações de esgotamento com a complexidade desta situação.

Discute-se, por exemplo, a dificuldade dos pais em exercer o papel de professores, o que é necessário principalmente para as crianças menores, da pressão por ajudar os filhos no momento em que mais estamos sobrecarregados, tanto na vida prática, com home office e/ou tarefas da casa, quanto emocionalmente, preocupados com a família, com a renda e com todos os etc. do mundo.

Ganha força a crítica à qualidade do ensino à distância, fala-se de crueldade com os professores, que teriam sido obrigados a virar youtubers da noite para o dia, sem treinamento, e de como uma certa precariedade é exposta todo dia nas telas das casas. Haveria uma hipocrisia, então, já disseram, com a escola fingindo que ensina, e os alunos, que aprendem.

Seja qual for a decisão dos colégios agora em relação às férias, ao formato das aulas, à mensalidade e a qualquer outro tema, não haverá como agradar a todos, longe disso.

Coloca-se, contudo, em questão, mais do que nunca, o sentido da educação. É a aula de matemática bem dada? Ou o professor de matemática perguntando se está tudo bem? Os dois, idealmente.

Mas o ideal é o oposto dos dias atuais. O momento é de escolhas, de prioridades, do melhor possível só por hoje. Claro, também de entender que o universo é bem maior do que a nossa casa. E do que a aula de matemática.

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