Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Descrição de chapéu Coronavírus

Metade das crianças tem medo de nunca mais voltar à escola, demonstra pesquisa

Foram entrevistadas virtualmente 4.322 crianças entre 9 e 13 anos, durante o mês de abril, quando a maioria dos países pesquisados passava pelo pico da contaminação

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Uma pesquisa realizada em 42 países, entre os quais o Brasil, aponta que 55% das crianças têm medo de nunca mais poder voltar à escola em razão da pandemia.

O levantamento foi apresentado em 7 de junho no Prix Jeunesse Internacional, respeitado festival organizado pela Alemanha para premiar as melhores produções audiovisuais voltadas para crianças e jovens.

Neste ano, o evento, que costuma reunir produtores de diferentes países, foi virtual, com transmissão pelo Facebook, e teve como tema o papel da mídia para o público infantil em meio à crise do coronavírus.

Foram entrevistadas virtualmente 4.322 crianças entre 9 e 13 anos, durante o mês de abril, quando a maioria dos países pesquisados passava pelo pico da contaminação, o que ocorre neste momento no Brasil.

O estudo “Crianças, Mídia e Covid-19”, realizado pela fundação responsável pelo festival em parceria com o Instituto Central Internacional de Televisão para Juventude e Educação, analisou as emoções, o conhecimento sobre o vírus, a relação com os meios eletrônicos durante o confinamento e as estratégias para a redução do estresse na quarentena.

Os maiores medos são o de que alguém da família fique doente e o de não poder visitar os avós por um longo período. Ambos atingem 83% dos entrevistados.

O cancelamento de festas e dos planos de férias preocupa 75%. Apesar de as crianças não terem sido colocadas como grupo de risco da Covid-19, 71% temem que amigos fiquem doentes, e 60%, que elas próprias adoeçam.

Não é baixa a preocupação com os animais de estimação, ainda que a contaminação de bichos por ora seja considerada rara pela ciência: 38% das crianças temem pelos pets.

A perda de conteúdo escolar preocupa 62%, e 59% se mostram apreensivos com o tédio durante o isolamento.Apesar de o sentimento das crianças ser semelhante em alguns aspectos, nas diferentes realidades, o estudo constatou que o medo tende a ser maior nos países mais pobres.

Os da África subsaariana concentram o maior número de crianças “muito assustadas”: 43%. Na América Latina e no Caribe são 32%, enquanto na Europa o número cai para 10%, e, na América do Norte, para 9%.

Para se ter ideia da variação, ao passo que na Áustria são apenas 2%, na Tanzânia o número salta para 75%.

A coleta de dados do Brasil foi realizada sob a coordenação de Beth Carmona, presidente do Midiativa (Centro Brasileiro de Mídias para Crianças e Adolescentes), associação sem fins lucrativos parceira no Brasil do festival Prix Jeunesse.

Ao chamar a apresentação dos resultados brasileiros, Maya Götz, pedagoga alemã, diretora do festival e coordenadora internacional da pesquisa, comentou “as notícias realmente assustadoras” de uma morte por minuto por Covid-19 no Brasil.

Carmona ressaltou que 75% das crianças brasileiras percebem que os pais estão muito preocupados com a pandemia e ponderou que a alta taxa se dá em razão das dificuldades dos sistemas de saúde em algumas regiões, dos problemas de desigualdade econômica, com moradores da periferia sem condições de cumprir o confinamento porque precisam sair para trabalhar, além do agravamento da crise política.

Ressaltou que, com o fechamento das escolas, muitas crianças que dependem das merendas têm mais esse déficit na alimentação e enfrentam dificuldades para acompanhar aulas on-line, por não terem acesso a computadores, celulares e internet.

A pesquisa alerta que crianças mais bem-informadas sentem menos medo e que 65% delas gostariam que canais e programas infantis dessem informações sobre o coronavírus.

Entre as iniciativas mundiais para tranquilizar esse público, o estudo cita como exemplo a Noruega, em que as autoridades concedem entrevistas coletivas a crianças.

No vídeo exibido no festival, um garoto pergunta por que não poderá celebrar o aniversário dele naquela semana, ao que um ministro lhe responde que não se deve reunir grandes grupos, mas que ele poderia comemorar com um ou dois amigos presencialmente, ou então com vários deles em uma reunião virtual.

O levantamento aponta que crianças suscetíveis a fake news se mostram mais assustadas e estressadas do que as que têm acesso a informações confiáveis e, dentre os exemplos de notícias falsas que ajudam a ampliar a ansiedade, menciona “Comer alho pode impedir que você pegue o coronavírus”.

Na última segunda-feira, o dia seguinte à apresentação da pesquisa no festival Prix Jeunesse, Jair Bolsonaro, ao ser abordado por uma mulher que garantiu que alho cru seria a cura para a Covid-19, lhe respondeu que agendaria uma reunião entre ela e sua equipe da Saúde.

O presidente, aliás, tem entre as iniciativas contra a tragédia do coronavírus, além desse encontro do alho cru, um Ministério da Saúde sem ministro há quase um mês e a tentativa de omitir da população os números de contaminados e mortos pela Covid-19.Qualquer criança, se pudesse entrevistar Bolsonaro, lhe perguntaria: Por quê?

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