Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Descrição de chapéu Coronavírus

Estou muito decepcionado com nosso ex-aluno Bruno Covas, diz diretor do colégio Bandeirantes

Para Mauro Aguiar, decisão tem viés eleitoreiro e ampliará desigualdades

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O diretor-presidente do Bandeirantes, Mauro Aguiar, se diz “horrorizado com a forma como o prefeito Bruno Covas está tratando a educação".

"Adiar a reabertura das escolas como vem fazendo é um crime, uma tragédia e vai ter consequências graves. Estou muito decepcionado com o nosso ex-aluno”, diz Aguiar, que conheceu o atual prefeito de perto quando ele cursou o ensino médio no colégio.

Na época, o garoto, que é de Santos, morava com o avô, o governador Mário Covas, no Palácio dos Bandeirantes. “O Bruno era um aluno brilhante, um bom menino, mas me desapontou muito”, diz Aguiar, para quem é um absurdo seguir adiando a volta às aulas.

O anúncio de Covas sobre a retomada está programado para esta quinta (17). Apesar de o governo do estado já ter autorizado a reabertura em 8 de setembro para atividades extracurriculares e para aulas em 7 de outubro, o prefeito não liberou as escolas de São Paulo para reabrir nessas datas e chegou a cogitar o adiamento para 2021.

Nesta quarta, no entanto, demonstrou a auxiliares que pode rever o adiamento completo e talvez liberar para atividades extras em outubro.

Homem branco de meia idade usando blazer sorri; ao fundo em área externa noturna com murada de concreto
Mauro de Salles Aguiar celebra o 70o aniversário do Colégio Bandeirantes em 2014 - Greg Salibian-20.set.14/Folhapress

Para Aguiar, Mário Covas não adiaria o retorno como o neto tem feito. “O Bruno já está marcando o nome dele como inimigo da educação e, se insistir em adiar as aulas, levará a cidade São Paulo a ser mundialmente conhecida como péssimo exemplo da educação na pandemia”, diz o diretor, que ressalta sua decepção com o ex-aluno, “que tem uma ótima família”.

“Quando estudava no Band, a mãe nos dizia que era importante que não fosse tratado de forma diferente, explicava para o Bruno que o avô ‘não era governador, estava governador’. E o Covas nos ligava com aquele vozeirão dele, na maior educação, pedindo para que, por favor, mandássemos para ele o boletim do Bruno, porque ele não teria tempo de ir buscar na escola."

Aguiar diz acreditar haver viés eleitoreiro nas ações do prefeito: “Se está fazendo isso pensando nas eleições, vai se dar mal, porque as pessoas estão se dando conta da necessidade de reabrir escolas e, até a votação, o equívoco do prefeito estará muito claro”, diz. “Abrir tudo e deixar a educação por último é uma inversão de valores.”

Aguiar afirma que, no Band, onde a maioria dos pais era contrária à reabertura, como mostram as pesquisas em geral pelo país, o clima começou a mudar, e as famílias demonstram preocupação com os riscos de manter crianças e jovens em confinamento por tanto tempo.

“Depois do pânico da pandemia, teve início um movimento em outra direção, especialmente de pais médicos, que sabem que é seguro, desde que respeitemos os protocolos”, afirma o diretor.

“Mesmo que os pais e os professores estejam com medo, o que é natural, o papel do Estado é o de mostrar que é seguro e reabrir. Não podemos deixar em hipótese nenhuma para começar no ano que vem. Todos já estão nas ruas, e as escolas, especialmente para os mais vulneráveis, será importante para reforçar a necessidade de se cumprir os protocolos.”

Aguiar diz ter sentido também um clima de revolta entre gestores escolares. O Band integra a Abepar (Associação Brasileira e Escolas Particulares), que reúne escolas da elite econômica, como Dante Alighieri, Santa Cruz, Móbile e Vera Cruz, e participou da elaboração do plano de retomada da educação de João Doria, aliado de Bruno Covas.

O Band fechou uma parceria com o hospital Sírio Libanês. “Os médicos nos ensinaram que o mais importante é o distanciamento social, o uso de máscaras e a higienização das mãos. Isso não é tão complicado de cumprir, nem muito caro. As escolas públicas também têm condições de dar conta dos protocolos”, diz Aguiar, que é membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo.

“Claro que nossos alunos sofrem com essa situação, mas não tem comparação com o que os da rede pública estão passando. A desigualdade vai aumentar de uma forma trágica."

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