Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Não basta agradecer aos professores, é preciso ajudá-los a reconstruir a escola

Entre os sentimentos associados a este momento, os mais citados foram medo, tristeza, insegurança, ansiedade, angústia e incerteza

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Este é o Dia do Professor mais especial da história, e é curioso pensar que a data tenha sido criada no Brasil por um grupo que defendeu que os professores, além de merecer a homenagem, se sentiam cansados a essa altura do ano e precisavam de uma folga para ganhar fôlego e refletir sobre os rumos dessa etapa final do calendário escolar.

Tendo como referência a data da assinatura do decreto de 1827 que havia criado o ensino elementar no Brasil, o educador paulista Samuel Becker e seus colegas conseguiram instituir essa pausa oficial nas escolas em 1947.

Mais de sete décadas depois, com a pandemia, os professores estão mais cansados do que nunca, mas precisam ter ânimo não só para dar conta de encerrar este ano caótico como para retornar presencialmente para uma escola que terão que reinventar.

Esgotados e com seus próprios dramas, terão que acolher emocionalmente crianças e jovens. Não basta, portanto, homenageá-los por tudo isso, temos que ajudá-los.

Aos longo dos últimos sete meses, histórias de como professores se desdobraram para aprender, da noite para o dia, a dar aulas on-line e a se relacionar com os alunos a distância brotaram na imprensa e nas redes sociais. Apertou nosso coração, ora de tristeza, ora de emoção, e até rimos com cenas folclóricas dessa realidade surreal.

Basta uma breve conversa com qualquer professor para saber que não foi nada fácil, e pesquisas apontam o tamanho do problema. Quando se completaram cinco meses de confinamento, o número de professores que sentiam que faltava formação para lidar com as ferramentas digitais ainda beirava os 50%, e mais da metade estava sobrecarregada (dados do Instituto Península).

Entre os sentimentos associados a este momento, os mais citados foram medo, tristeza, insegurança, ansiedade, angústia e incerteza (levantamento feito entre maio e junho; USP Cidades Globais/IEA-USP). E o impacto foi geral, dos que trabalham na mais precária das escolas públicas até na mais sofisticada das particulares.

Uma pesquisa do sistema de ensino bilíngue International School, feita em agosto nas 340 escolas brasileiras em que está presente, revelou que 96% dos professores tiveram que trabalhar mais do que o habitual da pré-pandemia.

É esse o lado desolador deste Dia do Professor, que chega, neste ano, em meio a uma sensação de que um dia de folga não é nada diante de tamanho esgotamento. Educadores, no entanto, parecem nunca se cansar do otimismo. E essa lição nos faz voltar às mesmas pesquisas já citadas para buscar outros números.

Mais de 60% passaram a encarar como positivas as ferramentas digitais (USP Cidades Globais/IEA USP). Quase 70% recorreram a outras fontes de pesquisa e aperfeiçoamento, além do que era oferecido pelas próprias escolas (International School). E um dado do Instituto Península para nos encher de gratidão: os professores estão mais preocupados com o estado emocional dos alunos (75%) do que a sua própria saúde mental (54%).

Um outro número da mesma pesquisa aponta o caminho para encarar o que vem pela frente: 72% dos professores se sentiram mais valorizados durante a pandemia. Não foram, portanto, os tribunais de grupos de WhatsApp de pais que triunfaram, apesar de todo o julgamento que os educadores sofreram com a exposição das aulas on-line.

Com essa nova relação, em que o encontro com os alunos se deu dentro de casa, a aproximação entre escola e família foi radical, nas palavras da socióloga e pós-doutora em educação Helena Singer, vice-presidente na América Latina da Ashoka, ONG de empreendedorismo social, além de membro do Conselho Municipal de Educação de São Paulo e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.

Referência em educação inovadora, Helena tem se debruçado nos últimos meses em análises sobre as transformações que a pandemia exigirá das instituições de ensino, e coloca essa proximidade das famílias como essencial.

Se abraçarmos todos a missão de pensar nos caminhos da educação, podemos então, a exemplo dos educadores, ser otimistas quanto ao futuro. Obrigada, professores, e que possamos seguir juntos.

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