Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Formatura online é insuficiente como rito de passagem; o que fazer?

Formandos podem pensar em soluções, como encontros com grupos menores ou mesmo o adiamento dos eventos para quando forem permitidos

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­Seja qual for o tipo de comemoração, uma simples colação de grau no pátio da escola, uma festa, um baile ou uma viagem em turma, as formaturas têm o papel de celebrar as conquistas e o de reforçar para a criança ou o jovem formando que eles estão preparados para encarar a próxima fase.

É um rito de passagem, que traz segurança por valorizar tanto a capacidade individual como o pertencimento a um grupo, reconhecido diante dos familiares, dos amigos, dos professores e da comunidade.

Difícil imaginar que uma reunião online dê conta de tamanha simbologia...

Penosa para todos os estudantes, a pandemia foi especialmente cruel para os que cursaram os anos finais, como o 9º do fundamental e o 3º do médio. A cada mês que a abertura das escolas era adiada –e o Brasil se tornou recordista mundial em tempo de escolas fechadas– acumulavam-se as frustrações decorrentes da impossibilidade de se vivenciar os tradicionais preparativos para a formatura, todos eles parte desse ritual.

Rifas para arrecadar dinheiro para uma festa ou uma viagem, reuniões para definir os detalhes da colação de grau, tudo o que normalmente é uma curtição se transformou em uma série de lives em que as turmas se esforçavam para espantar o nó na garganta, apegando-se à esperança de que a formatura, sim, seria presencial.

Com a melhora dos números e a abertura parcial das instituições de ensino, ganharam espaço os planos para uma celebração mais próxima da normalidade, que teria também um gosto de redenção depois de tanto sofrimento. Mas, a piora da pandemia na reta final do ano letivo elevou ainda mais a tensão e a divergência entre famílias e educadores com posições diferentes sobre os formatos possíveis para o evento.

Muitos sucumbiram à celebração virtual, outros tentaram modelos mesclados, com alunos recebendo o diploma presencialmente e as famílias assistindo pela internet. E houve também a opção por adiar até que se possa comemorar como manda o figurino.

“É claro que um evento virtual não é suficiente diante do papel que tem a formatura na vida dos estudantes. E eles acabam vivendo um luto em razão da impossibilidade de realizar essa celebração”, afirma a doutora em educação e professora de psicologia educacional da Unicamp, Telma Vinha, que se especializou em convivência no ambiente escolar e coordena o Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral.

Telma ressalta que o ritual da formatura é significativo independentemente da classe social, sendo que, para as famílias com maiores dificuldades econômicas, exalta também a árdua batalha dos pais para que o filho chegasse até lá, além de reforçar a expectativa de que, com aquele diploma, ele possa construir uma vida melhor.

Reconhecer o luto pela não realização da formatura presencialmente e acolher o sofrimento dos estudantes é necessário. Mas também é importante, diz a educadora, tentar reduzir a carga emocional da situação, uma vez que as crianças e os jovens tendem a reagir conforme o norte dado pelos pais. “Temos que admitir perante os filhos, claro, que formatura virtual ‘é um saco, é uma pena, é muito chato’, mas refletir sobre o conflito entre os sonhos pessoais e o enfrentamento coletivo dos problemas.”

Escolas e famílias devem conversar com os formandos sobre suas expectativas para além dos eventos virtuais e convidá-los a pensar juntos em soluções, como encontros com grupos menores ou mesmo o adiamento para quando as festas forem permitidas.

“Ainda que não haja uma data certa e que não se saiba que rumo cada aluno irá tomar no próximo ano, prosseguir com os planos de uma formatura e pensar sobre o futuro poderá ajudá-los a seguir adiante, manter o sonho e a vontade de celebrar”, acredita Telma.

E, além disso, reforça a ideia de que, apesar de tanta demora, a pandemia uma hora vai passar. E que vai rolar aquele abraço na turma, bem apertado e aglomerado.

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