Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Novo ensino médio de SP pode ter alunos matriculados em duas escolas

Plano do governo é que estudantes possam fazer currículo básico em uma unidade e disciplinas específicas em outra

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O governo de São Paulo se prepara para abrir a possibilidade de um mesmo aluno se matricular simultaneamente em duas escolas no novo ensino médio. O plano é que seja possível cursar, em uma unidade, as matérias básicas, aquelas obrigatórias a todos, e escolher outro colégio que ofereça o currículo específico de seu interesse.

No novo ensino médio, que deve ser obrigatoriamente implementado por todas as escolas do Brasil no próximo ano, os alunos terão que optar por uma área do conhecimento, com a qual tenham mais afinidade, para aprofundar seus estudos. Trata-se dos chamados itinerários formativos, e são cinco os principais: matemática, linguagens, ciências naturais, ciências humanas e ensino profissionalizante. Pelo menos 40% do currículo deve ser dedicado às disciplinas do itinerário formativo.

Sala de aula com alunos de máscara e sentados distantes uns dos outros
Alunos do ensino médio têm aula presencial na Escola Vital Brazil, em São Paulo - Zanone Fraissat - 3.nov.2020/Folhapress

As escolas, tanto públicas quanto particulares, terão flexibilidade para combinar as áreas, criando novos itinerários, e não precisam oferecer todos eles —o obrigatório é que se disponibilizem pelo menos dois. Os estudantes, portanto, poderão ter interesse por itinerários que não sejam oferecidos por sua escola, mas por uma outra.

Para casos assim, a rede pública de São Paulo, por enquanto, prevê a transferência dos alunos, desde que haja vaga na escola com o currículo de seu interesse. Mas a Secretaria Estadual de Educação já se prepara para flexibilizar as matrículas, liberando estudantes para cursar as matérias básicas em um colégio e o itinerário formativo em outro. Também será possível fazer ambas na mesma unidade e se matricular em outra para assistir a aulas de disciplinas opcionais no contraturno. Segundo Caetano Siqueira, coordenador pedagógico da secretaria estadual, "o sistema de matrículas está desenhado para que isso seja possível no futuro, provavelmente a partir de 2023."

A rede paulista terá dez itinerários combinando as quatro áreas (matemática, linguagens, ciências naturais e ciências humanas), além do ensino profissionalizante. Esses itinerários foram batizados com nomes considerados mais atraentes para os jovens, e são os seguintes: 1) Cultura em Movimento; 2) #SeLigaNaMídia; 3) Superar desafios é de humanas; 4) #quem_divide_multiplica; 5) Start! Hora do desafio!; 6) Meu papel no desenvolvimento sustentável; 7) Corpo, saúde e linguagens; 8) A cultura do solo: do campo à cidade; 9) Ciência em ação!; 10) Matemática conectada.

Siqueira afirma que todas as escolas, mesmo as menores e com poucos alunos, devem oferecer itinerários que contemplem as quatro áreas. Portanto, as que tiverem apenas dois itinerários devem disponibilizar os que combinam duas áreas. O coordenador diz que cada unidade definiu seus itinerários a partir de consulta aos alunos. "As escolas implementam os itinerários que a maioria de seus estudantes deseja. Mas pode acontecer de alguns terem interesse em uma combinação que não seja oferecida."

​Siqueira exemplifica: "Pode ser que haja, em um determinado colégio, dois itinerários com as áreas combinadas, um de matemáticas/ciências naturais e outro de linguagens/ciências humanas, mas que um aluno queira cursar a combinação matemática/linguagens". Para casos assim é que a solução é, hoje em dia, a tentativa de transferência do aluno, e futuramente será a matrícula em mais de uma escola.

A regra na rede de ensino paulista é a de que sejam priorizados para as matrículas aqueles alunos que residam em um raio de 2 km do colégio. Se houver vagas excedentes, elas podem ser abertas a outros interessados, matriculados por ordem de chegada. Escolas localizadas em áreas mais centrais (no caso da capital, também as que são próximas a estações de metrô) costumam ser procuradas por estudantes de diferentes regiões da cidade. Essa demanda tende a se ampliar com a diversidade de itinerários. Segundo Siqueira, quando existir uma alta procura por um itinerário em uma determinada escola, a secretaria avaliará a abertura de novas turmas.

Parte do curso do novo ensino médio também poderá ser feita a distância, por meio do Centro de Mídias da Educação de São Paulo, lançado durante a pandemia. Através do aplicativo, disponível para celulares, tablets e computadores, os estudantes poderão ter aulas on-line com suas turmas e com seus próprios professores ou acompanhar conteúdos elaborados para toda a rede. Siqueira dá um exemplo de um processo híbrido, ou seja, que mistura o ensino remoto e o presencial: "Um professor que ministra uma aula sobre sustentabilidade poderá acessar, no Centro de Mídias, um vídeo de uma visita ao laboratório nuclear da Universidade de São Paulo", explica. "Esse acesso acontecerá na sala de aula regular da escola estadual, com os alunos, presencialmente e juntos ao seu professor, assistindo ao conteúdo on-line."

No caso de aulas remotas, o aplicativo irá controlar a presença dos estudantes, e os professores estão sendo treinados para os engajar e se certificar de que estejam participando das aulas, segundo Bruna Waitman, coordenadora do Centro de Mídias e da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação de São Paulo.

Os alunos não poderão fazer todo o itinerário formativo on-line, e o número de horas a distância será abaixo do máximo permitido pela legislação, segundo Siqueira. Para cursos diurnos, o ensino médio terá, a distância, no máximo 10% da carga horária, enquanto a lei autoriza até 20%. No noturno, serão até 25%, abaixo do limite de 30%.

Diante dos prejuízos causados pelo ensino remoto ao aprendizado e à saúde mental em 2020 e 2021, o entendimento é o de que as aulas on-line deverão ser, a partir de 2022, apenas complementares às presenciais. O novo ensino médio é visto por educadores como estratégico na tentativa de resgatar o interesse dos alunos e, inclusive, para tentar trazer de volta aqueles que desistiram da escola na pandemia. Nesse cenário, as aulas a distância são consideradas arriscadas para os próximos anos.

Siqueira ressalta que o modelo remoto será utilizado apenas para disciplinas opcionais, adicionais ao currículo atual. "Só uma parte da expansão da carga horária poderá ser feita no aplicativo. O conteúdo que já tínhamos antes do novo ensino médio será unicamente presencial. Só o ‘a mais’ poderá ter uma parte a distância", garante.

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