Leandro Narloch

Leandro Narloch é jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, entre outros.

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Leandro Narloch

Ambientalistas precisam se libertar da obsessão com o Apocalipse

Tendemos a enxergar desastres naturais como castigos e o sofrimento como um caminho para a purificação

Até anteontem, três visões do Apocalipse assombravam os mortais. A devastação da Amazônia arruinara o ritmo de chuvas e São Paulo teria de aprender a conviver com a seca. Pesticidas provocavam a extinção de abelhas no Hemisfério Norte, anunciando um armagedon ambiental. Líderes mundiais se reuniam em Paris para evitar o aquecimento de pelo menos 2°C do planeta.

Bem, as chuvas do Sudeste voltaram ao normal, apesar de nenhum grande projeto de reflorestamento ter ocorrido na Amazônia. As abelhas reapareceram: o número de colônias de 2017 foi o maior em 20 anos, segundo o departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

E um novo estudo, publicado em janeiro pela “Nature”, revisou para baixo a sensibilidade climática (a variação do clima de acordo com a variação da emissão de carbono e outros fatores). Segundo os pesquisadores da Universidade de Exeter e do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, se a concentração de CO2 na atmosfera dobrar, o planeta vai esquentar no máximo 2,8°C, e não 4,5°C, como o IPCC previa.

 

Muita gente já definiu o ambientalismo como uma religião secular. Há um pecado original (a poluição), um demônio (as empresas poluidoras), uma visão de paraíso e de sacrifícios necessários para escaparmos do inferno. E há o Apocalipse.

É difícil achar um ambientalista que não se deixe alarmar pela ideia de que um castigo divino atormentará os poluidores. O fim das abelhas, a seca em São Paulo supostamente causada pela devastação da Amazônia e o aquecimento de 4 graus do planeta são exemplos recentes dessa longa obsessão.

Mas há muitos outros. Paul Ehrlich previu em 1971 que, por causa do DDT, a expectativa de vida dos americanos cairia para 42 anos em 1980. E Rachel Carson, no livro “Primavera Silenciosa”, um marco do movimento ambientalista americano, apostou que o DDT e pesticidas provocariam a extinção de pelicanos na costa oeste americana e uma epidemia de câncer infantil.

Nada disso aconteceu. Pelo contrário, a expectativa de vida aumentou à medida que fertilizantes e pesticidas entraram nas lavouras. Com ajuste etário, as taxas de câncer caíram levemente no último século, com exceção do câncer de pulmão.

A natureza humana ajuda a explicar essa obsessão com o Apocalipse. Tendemos a enxergar desastres naturais como castigos e o sofrimento como um caminho para a purificação. Os astecas, diante de secas, acreditavam ter irritado os deuses –e partiam para sacrifícios humanos na tentativa de acalmar os céus. Já ambientalistas encaram desastres naturais como “vinganças de Gaia” e prescrevem uma vida menos consumista para evitar o pior.

O ambiente profissional também explica. Ambientalistas vendem mais livros e ONGs ganham mais recursos e mais importância da imprensa se conseguirem alarmar a população.

Não que não existam causas ambientais importantes –como a poluição dos mares e dos rios urbanos. Mas a mania de Apocalipse desvia o foco dos problemas verdadeiros– e banaliza a gravidade de questões quando o alarme é de fato necessário.
 

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